sexta-feira, 31 de março de 2017
quinta-feira, 30 de março de 2017
O céu de Stevens- e de Sacadura, quiçá...
Quando o meu sonho estava perto da lua,
As pregas brancas da sua túnica
Encheram-se de luz
amarela.
As plantas dos seus
pés
Ficaram vermelhas.
O seu cabelo
encheu-se
De certas
cristalizações azuis
De estrelas,
Não distantes.
Wallace Stevens,
EUA (1879-1955)
(tradução de Luísa Campos)
quarta-feira, 29 de março de 2017
Como dizer poesia
...The poem is nothing but information. It is the Constitution of the inner country. If you declaim it and blow it up with noble intentions then you are no better than the politicians whom you despise. You are just someone waving a flag and making the cheapest kind of appeal to a kind of emotional patriotism. Think of the words as science, not as art. They are a report. You are speaking before a meeting of the Explorers' Club of the National Geographic Society. These people know all the risks of mountain climbing. They honour you by taking this for granted. If you rub their faces in it that is an insult to their hospitality. Tell them about the height of the mountain, the equipment you used, be specific about the surfaces and the time it took to scale it. Do not work the audience for gasps and sighs. If you are worthy of gasps and sighs it will not be from your appreciation of the event but from theirs. It will be in the statistics and not the trembling of the voice or the cutting of the air with your hands. It will be in the data and the quiet organization of your presence.
Avoid the flourish. Do not be afraid to be weak. Do not be ashamed to be tired. You look good when you're tired. You look like you could go on forever. Now come into my arms. You are the image of my beauty.
Leonard Cohen, ( excerto de How to speak poetry )
terça-feira, 28 de março de 2017
segunda-feira, 27 de março de 2017
domingo, 26 de março de 2017
«Quyquyo»
La Oruga
Te he visto ondulando bajo las cucardas, penosamente,
trabajosamente,
pero sé que mañana serás del aire.
Hace mucho supe que no eras un animal terminado
y como entonces
arrodillado y trémulo
te pregunto:
¿sabes que mañana serás del aire?
¿te han advertido que esas dos molestias aún invisibles
serán tus alas?
¿te han dicho cuánto duelen al abrirse
o sólo sentirás de pronto una levedad, una turbación
y un infinito escalofrío subiéndote desde el culo?
Tú ignoras el gran prestigio que tienen los seres del aire
y tal vez mirándote las alas no te reconozcas
y quieras renunciar,
pero ya no: debes ir al aire y no con nosotros.
Mañana miraré sobre las cucardas, o más arriba.
Haz que te vea,
quiero saber si es muy doloroso el aligerarse para volar.
Hazme saber
si acaso es mejor no despejar nunca la barriga de la tierra.
pero sé que mañana serás del aire.
Hace mucho supe que no eras un animal terminado
y como entonces
arrodillado y trémulo
te pregunto:
¿sabes que mañana serás del aire?
¿te han advertido que esas dos molestias aún invisibles
serán tus alas?
¿te han dicho cuánto duelen al abrirse
o sólo sentirás de pronto una levedad, una turbación
y un infinito escalofrío subiéndote desde el culo?
Tú ignoras el gran prestigio que tienen los seres del aire
y tal vez mirándote las alas no te reconozcas
y quieras renunciar,
pero ya no: debes ir al aire y no con nosotros.
Mañana miraré sobre las cucardas, o más arriba.
Haz que te vea,
quiero saber si es muy doloroso el aligerarse para volar.
Hazme saber
si acaso es mejor no despejar nunca la barriga de la tierra.
Jose Watanabe,
Perú (1946-2007)
sábado, 25 de março de 2017
Mudança
A hora mudou
a estação também,
mas o outono voltou.
Quando o frio for embora
deitarei a pele fora e ao sol
me esticarei e
em pontas
dançarei
o vira das emoções.
sexta-feira, 24 de março de 2017
Possível e incerto
Os graffiti do sonho
sulcam a memória
o coração é um
pulsar imenso
uma abertura ao possível
Ana Hatherly
(1929-2015)
quinta-feira, 23 de março de 2017
Cavalo de fogo
Era um cavalo todo feito em lavas
recoberto de brasas e de espinhos.
Pelas tardes amenas ele vinha
e lia o mesmo livro que eu folheava.
Depois lambia a página, e apagava
a memória dos versos mais doridos;
então a escuridão cobria o livro,
e o cavalo de fogo se encantava.
Bem se sabia que ele ainda ardia
na salsugem do livro subsistido
e transformado em vagas sublevadas.
Bem se sabia: o livro que ele lia
era a loucura do homem agoniado
em que o íncubo cavalo se nutria.
Jorge de Lima, Brasil (1893-1953)
quarta-feira, 22 de março de 2017
terça-feira, 21 de março de 2017
Das aves
Pôr
ciclicamente
curtos poemas
de rima pobre
ou ausente
ter a inspiração
assistida
pelo coração a
pulsar
e por vários sacos
de ar
expirar demente
quente
devagar
nunca perder o
fôlego
entre penas e siringe
externo em forma de quilha
asas para planar
duas patas sem anilha...
patas
para que as quer se
as não pode esticar?
O poema canta
NA BIBLIOTECA
O que não pode ser dito
guarda um silêncio feito
de primeiras palavras
diante do poema, que chega sempre demasiado tarde,
quando já a incerteza
e o medo se consomem
em metros alexandrinos.
Na biblioteca, em cada livro,
em cada página sobre si
recolhida, às horas mortas em que
a casa se recolheu também
virada para o lado de dentro,
as palavras dormem talvez,
sílaba a sílaba,
o sono cego que dormiram as coisas
antes da chegada dos deuses.
Aí, onde não alcançam nem o poeta
nem a leitura,
o poema está só.
E, incapaz de suportar sozinho a vida, canta.
O que não pode ser dito
guarda um silêncio feito
de primeiras palavras
diante do poema, que chega sempre demasiado tarde,
quando já a incerteza
e o medo se consomem
em metros alexandrinos.
Na biblioteca, em cada livro,
em cada página sobre si
recolhida, às horas mortas em que
a casa se recolheu também
virada para o lado de dentro,
as palavras dormem talvez,
sílaba a sílaba,
o sono cego que dormiram as coisas
antes da chegada dos deuses.
Aí, onde não alcançam nem o poeta
nem a leitura,
o poema está só.
E, incapaz de suportar sozinho a vida, canta.
Manuel António Pina (1943-2012)
segunda-feira, 20 de março de 2017
domingo, 19 de março de 2017
sábado, 18 de março de 2017
A pele do peito
... Mas no fundo sabemos
que o que importa mesmo
é roçar a superfície negra
da pele do peito do anjo
que está vivo
que não dorme.
Matilde Campilho
sexta-feira, 17 de março de 2017
quarta-feira, 15 de março de 2017
O Girassol e a Lua
domingo, 12 de março de 2017
sábado, 11 de março de 2017
Interrogação
Se as mãos longas de desassossego te conduzem ao canto
e o macio azeviche
dos cabelos te percute o estro
como evitar o pousar
inadiável dos seus lábios sobre os teus?sexta-feira, 10 de março de 2017
Cantar flores sem uma frase sequer
Velha Canção
Tradicional
“ Flor de cerejeira,
flor de cerejeira!”
Assim
cantavam
junto da velha árvore...
A árvore nas canções
era uma
só frase:
“ Flor
de cerejeira, flor de cerejeira!”
Issa, Japão
(1763-1827)
quinta-feira, 9 de março de 2017
terça-feira, 7 de março de 2017
Gota de orvalho
Em vão o menino
tentava
Segurar uma gota de orvalho
Entre o polegar e o indicador
Issa Kobayashi,
Japão (1763-1827)
(versão de Jorge Sousa Braga)
segunda-feira, 6 de março de 2017
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