segunda-feira, 25 de julho de 2022

Bósnia

As notícias misturam-se como agulhas

Despejadas no meu cérebro

Pela mão cega do comentador;

Tenho medo.

 Oito horas há em que as declarações cruéis

Se sucedem no meu recetor;

Muito alto, o sol brilha.

 

O céu está ligeiramente verde,

Como uma iluminação de piscina;

O café é amargo,

Em todo a parte se assassina;

O céu só ilumina ruínas.


Michel Houellebecq, França, 1956

(a tradução, do francês, foi feita por mim)



 

domingo, 24 de julho de 2022

"A canção da fome"

 

A canção da fome

 

Prezado senhor e rei,

Sabes a notícia grada?

Segunda comemos pouco,

Terça não comemos nada.

 

Quarta sofremos miséria,

E quinta passámos fome;

Na sexta quase nos fomos –

Não se aguenta quem não come!

 

Por isso vê se no sábado

Mandas cozer o pãozinho,

Senão no domingo, ó rei,

Vamos comer-te inteirinho!

 

Georg Weerth, Alemanha (1822-1856)

          (tradução de João Barrento)




sexta-feira, 1 de julho de 2022

Mar. Meio da manhã

 

Mar. Manhã

 

Parece ser um ente apenas

Este correr da onda do mar,

Como uma cobra que em serenas

Dobras se alongue a colear

 

Unido e vasto e interminável

No são sossego azul do sol,

Arfa com um mover-se estável

O oceano ébrio de arrebol.

 

Fernando Pessoa, (1888-1935)