Havia aqui um rio
que tinha duas margens
e uma mãe celestial que o nutria com gotas das nuvens
Um pequeno rio que corria lento
descendendo do cume das montanhas
visitando aldeias e tendas como um encantador e jovial
convidado
trazendo para o vale oleandros e tamareiras
e rindo-se para os boémios noturnos nas suas margens:
«Bebam o leite das nuvens
e deem de beber aos cavalos
e voem para Jerusalém e Damasco»
A uns, cantava heroicamente
a outros, apaixonadamente
Era um rio com duas margens
e uma mãe celestial que o nutria com gotas das nuvens
Mas raptaram-lhe a mãe
e, porque de água privado,
morreu, lentamente, de sede.
Mahmoud Darwich, Palestina (1941-2008)
(tradução, da v. ingl., de Manuel A. Vieira)