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quarta-feira, 1 de maio de 2024
sábado, 6 de abril de 2024
«Um rio morre de sede»
Havia aqui um rio
que tinha duas margens
e uma mãe celestial que o nutria com gotas das nuvens
Um pequeno rio que corria lento
descendendo do cume das montanhas
visitando aldeias e tendas como um encantador e jovial
convidado
trazendo para o vale oleandros e tamareiras
e rindo-se para os boémios noturnos nas suas margens:
«Bebam o leite das nuvens
e deem de beber aos cavalos
e voem para Jerusalém e Damasco»
A uns, cantava heroicamente
a outros, apaixonadamente
Era um rio com duas margens
e uma mãe celestial que o nutria com gotas das nuvens
Mas raptaram-lhe a mãe
e, porque de água privado,
morreu, lentamente, de sede.
Mahmoud Darwich, Palestina (1941-2008)
(tradução, da v. ingl., de Manuel A. Vieira)
quarta-feira, 25 de outubro de 2023
«Bastou-me ficar nos seus braços»
quarta-feira, 18 de outubro de 2023
Guerras 4
quinta-feira, 14 de setembro de 2023
Transparecer
Carlota Monjardino, Ilha ao longe |
Visitas/ Exposição
Ilha ainda longe
lenta descida
na vertical
vento forte cinza e sal
cerrar dos olhos
medo soez
Pés na terra
tons de verde
a triplicar desta vez
névoa nos campos colinas
azul no céu e no mar
baía praia prainha
sombra crepuscular
farol planos de luz
camadas espessas ou finas
traços pontos linha
outra ilha se adivinha
e sublime transparece
em tela madeira tecida
tule rede filtração
paisagem preservação
sintética e solúvel tinta
cor contornos ondulação
falta a sublime giesta que
embalsamou Brandão.
quinta-feira, 20 de julho de 2023
«Polémica»
Concordo inteiramente com o que dizes.
Quando as nuvens e as palavras se separam
O ar estremece e o cosmos fragmenta-se.
Enquanto não se conhecer a intenção
Nenhum caminho será descoberto.
A Índia era pó, um leopardo à sombra de uma pedra.
Cheguei à entrada da cidade
E aí estava ela, branca, à luz do sol.
As paisagens são absurdas enquanto não se aceitam.
Salaamed humedeceu os lábios e colou-os ao pó.
Ele é o vale e o vale é ele.
Mas até à morte negar-te-ei o direito de o dizer.
domingo, 18 de junho de 2023
De rabos e de peixes- Rabo de Peixe contado às crianças
Isto não é Rabo de Peixe |
Rabo- rede das armações de pesca fixas que se dirige para o lado
da terra;
Rabo- pode também
ser um apêndice, acrescentamento; suplemento.
Era uma vez alguns rabos de saia e muitos rabos de lagartixa
naturais de uma vila esquecida de um mundo pequeno que ouviam, com uma evidente
dose de impaciência, diversos pregadores vindos de fora. Embora se tivessem
habituado aos rabos de palha que frequentemente lhes atribuíam, sabiam bem que não
eram propriamente peixe podre! Os companheiros e pais dos indivíduos atrás
referidos estavam ocupados a puxar as redes em barcos geralmente alugados, sob
a proteção de santos da casa, ou do continente que raramente fazem milagres e se
quedavam mudos, como os peixes que os homens e os rapazes mais crescidos
queriam apanhar, e que o mar e os rabos de ciclone nem sempre permitiam.
Quando se vive assim, não se espantem se tudo o que vier à
rede, for considerado peixe; se na faina, e nos rabos para sustentarem as famílias
numerosas, alguns fossem para os peixinhos!...
Depois de um acontecimento maior que abalou o quotidiano pouco
pacato da comunidade piscatória e da ilha toda, alguns apressaram-se a declarar
nada ter a ver com esse peixe/negócio graúdo; outros, que estariam a dormir, que apenas
o venderam pelo preço que o compraram.
Pessoas vagamente desconhecidas,
que teriam o rabo pelado ou talvez não, propuseram à população realizar uma
série que, como o caranguejo e no bairro com este nome, teria por tema o
acontecimento-tabu. As opiniões dividiram-se, instalou-se a controvérsia, tendo
os proponentes metido por algum tempo o rabo entre as pernas.
A série estreou, a polémica de novo estoirou, estendendo-se até
ao país. Parece que tem sido um sucesso no grande mundo que se deu conta da existência
de uma vila, situada numa das ilhas do arquipélago-maravilha, onde in illo
tempore um anticiclone proporcionava o bom tempo a grande parte do
continente europeu.
Serão felizes de hoje em diante, e/ou para sempre? Esperemos para ver.
"Não queremos
mais turismo, já temos que chegue. Queremos é mudar o que está mal, ajudar as
pessoas que precisam. Não percebo nada de política ou gestão. Sei tocar viola e
cantar. Mas acho que o que era preciso era ajudar as pessoas, dar cultura às
pessoas, dar-lhes acesso a educação e saúde", pediu Romeu Bairos músico e
ator na série.
Rapazim de Rabo de Peixe? Muito provavelmente.
https://www.youtube.com/watch?v=wcFjN_pK4Wo