segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Da mente- sopros

                                        Olhos baços de esquecer  
                                    fixam um ponto no espaço da dor;
                           ou botam discurso ou gritam - num silêncio assustador
                  Alguns contam também os passos: traçam um círculo insatisfatório,
                   refazem-no  hesitam no território, regressam depois
                        - metem o carro à frente dos bois,
                              saltam barreiras que ninguém vê
                                      bebem fumam e outro lê
                                      fechados em si  muito urbanos
                                        estão por aí: bem humanos. 
Segunda
Por sobre a noite uma voz me preenche
e assim se dirige uma voz por sobre a noite
uma ausente luz desce, mexe e enche
o coração açoitado e onde o açoite (…)        
Constelação Vega        
E tinhas o brilho duma estrela gravado pelo peito
como se fosse uma tua tatuagem de luz
era um olho amarelo que te brilhava no peito
no sítio onde o esterno é metade
Isso era a sapiência do teu tórax todo feito luz
Era precisamente a sapiência dos teus pulmões
a explorarem fogo por fora do peito
e tinhas o brilho da constelação Vega
gravado pelo peito todo(…)

Nada mais - rien ne va plus
(…) Hoje é dormir cantar
dormir com uma canção na cabeça
dizer boa noite meu amor meus astros minha esfera
amanhã outra vez amanhã de novo te conheço
ressuscito para as coisas
e assim o sono a existência o momento que passa
e nada mais
porque nada mais meu bom Sartre na verdade
nada mais que o momento
conta senão para nós.
                                        António Gancho (excertos de 3 dos seus poemas), in memoriam  

 

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