Os navegadores
Navegar é preciso
viver não é preciso
Se a constelação indica o rumo
então é preciso olhar para o céu
e alcançar essa estrela sem nunca a perder de vista.
Porém, a uma distância tão grande,
mais vale navegar às cegas.
Navegar é preciso
viver não é preciso
Não se corrige o leme endireitando o navio.
Escreve-se a bombordo.
A estibordo repousa-se, mas os corações rufam
rendidos.
A tempestade aproxima-se, sabe o gajeiro que grita.
Com que mar maldito misturámos o nosso destino.
Em que oceano infinito decidimos aprender a viver.
Navegar é preciso
viver não é preciso
O norte da bússola, cravaram-no
na costela flutuante do seu flanco esquerdo.
Abriram os braços
para abarcar os limites do antigo horizonte
e o peixe-espada perfurou-lhes as palmas das mãos
e pregou-os no cimo do mastro húmido.
Com doçura olhavam para o céu,
a fronte mortificada por uma coroa de sal.
Não houve uma lágrima, suponho:
dos homens mais rudes se diz que não choram.
Três dias mais tarde,
finda a faina do bacalhau,
dos mastros, rijos, todos os homens foram descidos.
Mas não subirão nunca ao céu,
porque navegar lhes é preciso.
Eduardo Langagne (n. México, 1952 ) , Naveguar es preciso
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