quarta-feira, 24 de julho de 2013

Mamas, parte de um todo


MAMAS ou a parte pelo todo
                           …«Então me nutro das tetas dos poetas/pensando no meu seio.»
                                                                                                                               Ana C. César

Raramente usei mamas para referir as pequenas formas gémeas que do meu peito emergem e que, a seu modo, compõem a estética e exibem a dualidade de qualquer eu-feminino. Por sempre me ter parecido demasiado pesada, funcional quanto baste e, ainda, por não poder aplicar-se, com precisão, ao meu caso concreto…
Depois de ler Mamas, pus de lado o diminutivo de que habitualmente me sirvo para designá-las. Trilhando aforismos, vogando em associações imagéticas subitamente alterosas, levada, em suma, pela visão conceptual/emocional do autor, aprendi a gostar da palavra. No corpo dos 38 pequenos textos em que ela irrompe, vem revestida de uma força mágica e, simultaneamente, material que a presentifica!
Foi com um espanto imenso que mergulhei as mãos nesse hino/tratado lírico às partes sensíveis, ao quadrado, do nosso corpo. E ouvi-me repetir, maravilhada, o par de sílabas que formam esses pequenos hemisférios e a ter de dar-lhes a volta, em menos de 80horas.Nem Júlio Verne que, há 116 anos (em 1895), publicou a sua volta ao mundo, foi capaz de me valer!
Então fiquei no meu quarto, lendo - escutando. Aconchegando as letras, chegando-me a elas, para não partir sozinha. Todo o toque, por ser efémero, desencadeia o desejo de eternizar no tempo e no espaço a viagem, feita de regressos e de paragens inusitadas, que logo possibilita.
Lábios, boca, língua dentes; mãos, ouvidos: os instrumentos de aproximação e descoberta. De sons, formas, volumes -sensações; de limites e até do indizível dessas projecções redondas e macias que saciam fomes diversas. Do sujeito que as diz, cantando e que é por elas dito, beijado, escrito: reciprocidade cúmplice.
E como em qualquer viagem, (na poesia também), há riscos: lutas, miragens, fogo-de-santelmo, abisso  – mortes, perda do eu… que (eu) sei eu!
Em tom elegíaco e hedonista - de onde nem toda a liturgia/ironia estão ausentes e num metro deliberadamente irregular, Rui Caeiro materializou - devolvendo-as a quem de direito, as nossas mamas, constituindo-as como um objecto estético cujo «arfar serena os ventos em volta».
 Rico, muito rico, é aquele que assim nos refaz!
                                                                     Felizmina Pulquérrima

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