quinta-feira, 27 de junho de 2019

Talvez o verão



 azáfama na manhã 
nuvens baixas
                   fugindo 
dos andorinhões



sábado, 22 de junho de 2019

Mosca na teia



Cilada a casa.
Eu sou a mosca
adstrita à aracniana abóbada.

Eis-me balouçando nas recordações:
conservada
no frigorífico da teia.

Ela virá. Quase surpreendo
na antecipação da minha câmara
os seus passos de pinças.

Daniel Jonas (1973)



terça-feira, 18 de junho de 2019

Sanidade sazonal

 Sol 
no pino

Depois da praia recolhíamos
a roupa suspensa no varal para
pendurar
sem sal nem areia a que
trazíamos do mar
Julgávamos que haveria vida e alegria
 na próxima estação
 Inúteis as canas apodreceram no chão
Talvez os ventos tenham rompido
 a corda do estendal e os ratos roído
 todo o vestígio
 dessa sanidade sazonal …





quinta-feira, 13 de junho de 2019

Verso antigo




Quero a brevidade.
 Se tudo se laça ou deslaça
 seja o que for, breve aconteça.
Para requiem já basta.
Termino e digo:
Coisas, Celalba, tenho visto estranhas:
 Por que me lembra
 este verso antigo?

 Helga Moreira

terça-feira, 11 de junho de 2019

Turistas com tonalidades simbolistas




Turistas que passais no Calhariz
 E a mim me congelais nessa faísca
 Que vos cospe esse óculo que pisca
 Ciclópico por cima do nariz;

O que levais de mim não é eu mesmo
 Apenas o que acaso calhei ser
 No flash, no fotograma, no parecer
 Que eu era (e afinal eu era a esmo…)

E autóctone nem isso, com efeito…
 Apenas um ludâmbulo, enfim…
 Que nem daqui ser calha, calha bem…
 Enfim, peço desculpas plo mau jeito.

E assim passo por todos, ‘té por mim…
 No vosso passe-partout até também…

Daniel Jonas (1973)


quarta-feira, 5 de junho de 2019

Ar



Amo
       o Ar
quando se
        transmuta em

           B
                 R
             I
                << S
             > a >>   

segunda-feira, 3 de junho de 2019

Ventos e correntes



                      Interrogatório
 Eu não tenho respostas para o vento que força a porta,
 tenho desejos que se afogam no sono.
 No meu esquecimento, a água poderia espelhar-se,
 e a árvore poderia tornar-se inocente do vício dos ramos e 
        enviar as folhas/ no correio noturno.
 Ó vento paciente pega no serrim da porta e vai-te.
 Não há respostas.
 Há coelhos aterrorizados aqui/ 
          caindo em alvura como o deleite flui no corpo.

                    Q.H (a tradução, do inglês, é minha)