domingo, 29 de março de 2020

Clarinete





















 No ermo da praça
                  a súbita
                          melodia 
                     de um
                             clarinete

quarta-feira, 25 de março de 2020

" ... vida outra coisa... "


tu supunhas-me longe
eu supunha-me longe
longe é o mais perto
quando o hoje é baço
passos pela escada
vozes pela rua
vou com esses passos
vou com essas vozes
aqui é longe
hoje é outrora
vida outra coisa
no andar suspenso
longe é o mais perto longe
é o mais perto

MÁRIO DIONÍSIO,
 in O riso dissonante, 1950




domingo, 22 de março de 2020

Boas notícias vão chegando...



Há boas notícias a chegar
             devagarinho,


                  pessoal !!!
               


sábado, 21 de março de 2020

Contra o vírus, primavera e poesia


                 Um vírus desconhecido fez-nos esquecer a primavera e a poesia.

           Escolhi o poeta japonês Yayu para relembrá-las:

Ao espirrar
perdi de vista
a calhandra



domingo, 15 de março de 2020

"Pandamor"





Eu não sabia
  o quanto
 vocês e eu
  éramos
ramos de uma
grande árvore

tristeza e alegria
  a seiva que
 nos alimentava
 e
 ligava à terra


dispersos e moribundos
    nos sentimos
                    agora
   vivos estamos, porém
  e na retaguarda da refrega

 ... mas sei que tu não
 irias nunca
morrer por mim.

sábado, 14 de março de 2020

«Entre ser e perecer»

 Entre ser e perecer recitávamos uma fábula,
 Tão leve ao vento como uma pluma-parábola;
 No seu sentido jazia todo o nosso viver.
 Voaram com ele a pluma e a fábula.

 Ahmad Chamlu, Irão (1925- 2000)



terça-feira, 10 de março de 2020

Senhora KOU-CHI


Vem aí a primavera

 Ligeira e doce
 a chuva tépida
 faz  renascer
 no pátio desnudo
 a erva e o musgo.

 No pomar
 de árvores em flor
 um verdilhão verde claro
 canta em tom menor.
 A rapariga
 ouve cantar
 um outro pássaro
 dentro do seu coração.

Senhora Kou Chi , China, dinastia Ming

       (a tradução do francês é minha)



domingo, 1 de março de 2020

Arder







               Essas imagens

(…) Devo ter amado desde o princípio
 essas imagens que ardem dentro de mim.
 As que atentam com cravos
                                                 e amam
a erva daninha,
                          as que bebem e morrem
 muito
 (…) e nunca findam nos espelhos.


Luís Valle,   Galiza, Espanha

  (tradução de Tiago Alves Costa)