domingo, 28 de março de 2021

Ovídio


Seguia o veículo pela EN que Flora diligentemente enfeitara

 passageiros em seus assentos semeados fechavam os olhos ou

 liam para abreviar a viagem

 Quem de rosto encoberto olhasse o campo

 estremeceria longamente sentindo

 o verde vibrar o violeta silvestre

                         irromper em flor

 nos recônditos invernosos do seu corpo 

 

quarta-feira, 17 de março de 2021

«Ginjal, a meio caminho da sua vida»

                    ao Pedro Costa 

Entre eu e as luzes há um rio preto.

 Imitação dos que extraviaram

 Ulisses pela galhofa de deuses

 cegos. Um rio preto.

 Escrever é uma coisa tão pouca.

 De umas vezes garantir fiado,

 de outras amanhecer a medo

 no rasgão que imprime a cidade

 ao longe. Infindável rebentação.

 Falo de uma insónia, claro,

 dos olhos que desabrigam

 lá dentro toda a memória,

 quando se fica a roer um os-

 so sob um céu de sépia.

 

António Cabrita (1959)


 

terça-feira, 16 de março de 2021

Tempo

 

Tudo se revela devagar.

 É o tempo que repisa,

 mastiga as imagens,

 as palavras,

 e as faz transparecer

 renovadas

 ressentidas.

 Devagar.

 E vamos envelhecendo…


Maria Paiva/ Dulce P.




sábado, 13 de março de 2021

Primavera, em breve


os pés flutuam

as mãos caminham

 

em torno a vida

   que não é

 

o corpo estrada

o corpo espada

 

escada de hera

   balancé 




domingo, 7 de março de 2021

segunda-feira, 1 de março de 2021

Camélias

 rosas do inverno cá    
                                                    Leblon: rosas do kilombo sol lá

cair 

começam


de 

amor

                          quando as ameixeiras dão flor