quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Novembro e (m) Roma

 

Novembro

 

Jovens e velhos

 agrupam-se

entre as quentes ruínas de Roma,

e sobre elas os plátanos deixam cair

ao som do papel

as suas folhas douradas.

Os jovens falam aos velhos

das coisas que gostam,

e os velhos fazem de conta que nada ouvem.

 

Aldo Palazzeschi, Itália (1885-1974)

     (tradução de João Coles)


 Roma


Roma

é como as ruínas

 

de uma relação amorosa

 

restos de

beleza

 

a céu aberto


Daniel Jonas



 



sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Mareações e manobras


Ah ver o mar

Antes que se abra nova fenda

ou ferida de tanto avançar

dar três passos para trás

tornozelos imersos no mar

 

Foge-se com efeito para a frente

- mais depressa ou menos devagar

 quando há perigo iminente

 é avisado recuar

- bem depressa e menos devagar

 

Siar ciar

vogando a direito

evitando a corrente

Se velas houver

a grande caçar

mareando o estai

ziguezaguear

o vento aparente

       ai!

do leme de ló

ao leme de encontro

vertigem

   Vai- não-vai

 Oooh… Ó

coragem içar

       e

   Ala!

com alento

     como sempre   manobrar


 

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Ser mineral

 

Atenta ao som da negra areia

às formas às linhas

     de material tecido

às vezes gravo

outras … escavo

em ígnea pedra

    o que lhes é devido

- delas ascende a minha voz…

mas é de mim que sempre arranco

         da vibração latente

num canto

                        ao fundo

hialino quartzo

laminados nós

meus frágeis alicerces

                          do mundo




domingo, 7 de novembro de 2021

Deslocado fulgor

 

Noctilúcio- deslocado fulgor

 

Fogueia entre madeiras e livros

ou fosforeja na escuridão

a luz

do seu amor vão

sem som

 lunar combustão

que o há de queimar

Fanal menor de biblioteca filha

fosforescência- do- mar

lume vivo ou vago lume

inseto oitava maravilha

fátuo quase o teu fogo

que hoje

em Faros mesmo

 não brilha.




sexta-feira, 5 de novembro de 2021

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Sem cães nem chuva

 

Chuva batida

gingando chingando 

bátega traz bátega

          tombando

    qual catarata

cem cães...

    Cão é o vento 

com seus ganidos

a faz guinar

Sobre o molhado

   ossos latidos

poeta cuidado!

 inútil chorar.