Pequenos e enérgicos habitantes de outro espaço e de um
tempo outro, escavam túneis no subsolo 4 horas a fio, para morarem e armazenarem
alimento; depois param e adormecem, embalados pelo ritmo que, em surdina,
acrescentam à lira do Trácio.
Dormem, cada qual em sua galeria, em cama própria, fechando
os olhos que pouco veem; então, todo ouvidos, seguem em sonhos Orfeu, tréguas dando
ao pelo que lhes protege o corpo cilíndrico, ao focinho e à cauda cujas
vibrissas os orientam na caça e, sobretudo, aos dentes, sem os quais
morreriam porque precisam de comer muito.
Misteriosos, só se
mostram na primavera para acasalarem, ou por obra do acaso.
Aos dois meses,
quando deixam o berçário, os filhotes partem, por seu turno, à descoberta de um
lugar subterrâneo só para eles, onde comida e sossego abundem. Continuarão a
azáfama dos progenitores que, para nós, se pensarmos um pouco, consiste também
em construir compridos canais por onde a chuva penetra lentamente no solo; ao
mesmo tempo revolvem e arejam as profundezas, das quais retiram terra paus
raízes que vêm modelar e revestir de novas camadas e de formas inusitadas a
geometria convencional do nosso território.
Vivem cerca de 4 anos- apenas. Enquanto fazem, vivem- amaldiçoados. Parecem-se com quem?