domingo, 14 de maio de 2023

Toupeiras

 

Pequenos e enérgicos habitantes de outro espaço e de um tempo outro, escavam túneis no subsolo 4 horas a fio, para morarem e armazenarem alimento; depois param e adormecem, embalados pelo ritmo que, em surdina, acrescentam à lira do Trácio.

Dormem, cada qual em sua galeria, em cama própria, fechando os olhos que pouco veem; então, todo ouvidos, seguem em sonhos Orfeu, tréguas dando ao pelo que lhes protege o corpo cilíndrico, ao focinho e à cauda cujas vibrissas os orientam na caça e, sobretudo, aos dentes, sem os quais morreriam porque precisam de comer muito.

 Misteriosos, só se mostram na primavera para acasalarem, ou por obra do acaso.

 Aos dois meses, quando deixam o berçário, os filhotes partem, por seu turno, à descoberta de um lugar subterrâneo só para eles, onde comida e sossego abundem. Continuarão a azáfama dos progenitores que, para nós, se pensarmos um pouco, consiste também em construir compridos canais por onde a chuva penetra lentamente no solo; ao mesmo tempo revolvem e arejam as profundezas, das quais retiram terra paus raízes que vêm modelar e revestir de novas camadas e de formas inusitadas a geometria convencional do nosso território.

Vivem cerca de 4 anos- apenas. Enquanto fazem, vivem- amaldiçoados. Parecem-se com quem?




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