domingo, 18 de junho de 2023

De rabos e de peixes- Rabo de Peixe contado às crianças

Isto não é Rabo de Peixe

 

  Rabo- rede das armações de pesca fixas que se dirige para o lado da terra;

       Rabo- pode também ser um apêndice, acrescentamento; suplemento.

 

Era uma vez alguns rabos de saia e muitos rabos de lagartixa naturais de uma vila esquecida de um mundo pequeno que ouviam, com uma evidente dose de impaciência, diversos pregadores vindos de fora. Embora se tivessem habituado aos rabos de palha que frequentemente lhes atribuíam, sabiam bem que não eram propriamente peixe podre! Os companheiros e pais dos indivíduos atrás referidos estavam ocupados a puxar as redes em barcos geralmente alugados, sob a proteção de santos da casa, ou do continente que raramente fazem milagres e se quedavam mudos, como os peixes que os homens e os rapazes mais crescidos queriam apanhar, e que o mar e os rabos de ciclone nem sempre permitiam.

Quando se vive assim, não se espantem se tudo o que vier à rede, for considerado peixe; se na faina, e nos rabos para sustentarem as famílias numerosas, alguns fossem para os peixinhos!...

Depois de um acontecimento maior que abalou o quotidiano pouco pacato da comunidade piscatória e da ilha toda, alguns apressaram-se a declarar nada ter a ver com esse peixe/negócio graúdo; outros, que estariam a dormir, que apenas o venderam pelo preço que o compraram.

 Pessoas vagamente desconhecidas, que teriam o rabo pelado ou talvez não, propuseram à população realizar uma série que, como o caranguejo e no bairro com este nome, teria por tema o acontecimento-tabu. As opiniões dividiram-se, instalou-se a controvérsia, tendo os proponentes metido por algum tempo o rabo entre as pernas.

A série estreou, a polémica de novo estoirou, estendendo-se até ao país. Parece que tem sido um sucesso no grande mundo que se deu conta da existência de uma vila, situada numa das ilhas do arquipélago-maravilha, onde in illo tempore um anticiclone proporcionava o bom tempo a grande parte do continente europeu.

Serão felizes de hoje em diante, e/ou para sempre? Esperemos para ver.

 "Não queremos mais turismo, já temos que chegue. Queremos é mudar o que está mal, ajudar as pessoas que precisam. Não percebo nada de política ou gestão. Sei tocar viola e cantar. Mas acho que o que era preciso era ajudar as pessoas, dar cultura às pessoas, dar-lhes acesso a educação e saúde", pediu Romeu Bairos músico e ator na série.

 Rapazim de Rabo de Peixe? Muito provavelmente.

 

https://www.youtube.com/watch?v=wcFjN_pK4Wo


«A mortos e a idos não há amigos»

A morte é a curva da estrada,


Morrer é só não ser visto.


Se escuto, eu te oiço a passada


Existir como eu existo.

 (...)


 

Fernando Pessoa


               P.S. : muitas mortes sofre quem

                          por mão cobiçosa

                              privado ficou

                             do local onde

                          a estrada curvou

                                                    Tomorrow...

                      ... durou o que durou.


domingo, 4 de junho de 2023

« Desejar é supérfluo...»

Desejar é supérfluo, ali onde o corpo

 

                                                  A Dina Posada

 

Abandono-me a toda a extensão da minha

     inteligência e da minha sensibilidade.

Já não busco apoio, nem tenho base.

Não sei onde procuro, nem sei o que estou procurando.

É a mulher viva a quem isto fere, e a paralisia

que me sufoca está no centro da minha presença usual,

nunca nos meus sentidos de mulher predestinada.

O meu suplício é tão subtil, tão raro quanto ordinário.

Vence-me a imobilidade impedindo-me cada vez

     mais de me devolver a mim própria,

quando o caminho antigo vem ao meu encontro.

 

Lauren Mendinueta, Colômbia,1977

    (a tradução é minha)