terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Ensaiar o « Vislumbre»

Vislumbre

A horas flébeis, outonais - 
Por magoados fins de dia - 
A minha Alma é água fria 
     Em ânforas d'Ouro... entre cristais...


Mário de Sá-Carneiro, (1890-1916)





segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

1 dálmata

Foto gentilmente cedida por J L Macedo
CÃO DE LOUÇA

 Croatia (maybe) 
 Dalmatian(s)- the 101  Dodie (Dorothy Gladys Smith)
 Disney Studios (twice)
 SylvaC (decorative Dogs) Sacavém ceramics (maybe)
 (contemporary) Sculptor’s shame
 Private Jokes

domingo, 27 de dezembro de 2015

Pernilongos, os mosquitos



NO EXISTE EN LA NOCHE EL AMOR, EXISTEN LOS AMANTES

El deseo es un mosquito
que ronda tu piel en el centro de la noche.
Te persigue cuando tienes más cansancio,
te atosiga justo cuando estás a punto
de caer en el pozo del sueño
y despiertas en el centro de la sed.
No te reconoces en el espacio que te rodea.
Tu recámara en la penumbra
parece una prisión sin dimensiones
y te sofoca el zumbido
del negror en las paredes.
El estruendo del viento
sacude tu sordera
y aterrizan tus huesos
en las noches que trituras
para recobrar la sensación que llamas tiempo.
Pero nada pasa.
Apenas te queda el recuerdo del movimiento,
como cuando quieres gritar en un sueño
y no sale nada de tu boca.
Entonces notas que estás encadenado a una cama
a donde vienen los mosquitos cada noche
a perforarte la piel
para extraer la sangre de tu río subterráneo.
La noche es un deseo desesperado
de encallar en la otra orilla
antes que el sol asome tras las rocas.
Eres un barco aletargado
circundando un promontorio
de peñascos al desnudo.
Eres el mosquito para quien
el hambre es lo mismo que la sed,
la noche lo mismo que el deseo.

Violeta Orozco, México,1989


segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Onde os pássaros cantam


Hope is the thing with feathers

Hope is the thing with feathers
That perches in the soul,
And sings the tune without the words,
And never stops at all,

And sweetest in the gale is heard;
And sore must be the storm
That could abash the little bird
That kept so many warm.


I’ve heard it in the chillest land,
And on the strangest sea;
Yet, never, in extremity,
It asked a crumb of me.

 Emily Dickinson,  (1830-1886) 


sábado, 19 de dezembro de 2015

« desmallarmento»


estatuto do desmallarmento

minha senhora, tem um mallarmé em casa?
 você sabe quantas pessoas morrem por ano
 em acidentes com o mallarmé?

estamos organizando uma consulta popular
para banir de vez o mallarmé dos nossos lares
 as seleções do reader’s digest fornecerão

contêineres onde embarcaremos os exemplares,
no porto de santos, de volta para frança.
seja patriota, entregue seu mallarmé. olê.


Angélica Freitas, Brasil (1973)



quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Breve e furtiva



escrevi um curto poema trémulo e severo,
sete ou nove linhas,
e a densa delicadeza dessas linhas
era cortada por uma ferida cega,
mas aquilo que o alimentava e unia
- fundo, devastador, incompreensível -
nem eu sabia o que era:
talvez a técnica atenção da morte
vigiasse arte tão breve, tão furtiva



Herberto Helder, ( 1930 -2015)





segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Alerta vermelho

Fotografia de Luciana Magalhães




Sedia-m'eu na ermida de San Simion


Sedia-m'eu na ermida de San Simion
e cercaron-mi as ondas, que grandes son,
eu atendendo meu amigo.

Estando na ermida ant'o altar,
cercaron-mi as ondas grandes do mar,
eu atendendo meu amigo.

E cercaron-mi as ondas, que grandes son:
non hei i barqueiro, nen remador,
eu atendendo meu amigo.

E cercaron-mi as ondas do alto mar:
non hei i barqueiro, nen sei remar,
eu atendendo meu amigo.

Non hei i barqueiro, nen remador:
e morrerei fremosa no mar maior,
eu atendendo meu amigo.

Non hei i barqueiro, nen sei remar:
e morrerei eu fremosa no alto mar,
eu atendendo meu amigo.



Meendinho, (séc  XIII ou XIV)


sábado, 12 de dezembro de 2015

WARS...


The Dead at Quang Tri

This is harder than counting stones
along paths going nowhere, the way
a tiger circles and backtracks by
smelling his blood on the ground.
The one kneeling beside the pagoda,
remember him?   Captain, we won’t
talk about that.  The Buddhist boy
at the gate with the shaven head
we rubbed for luck
glides by like a white moon.
He won’t stay dead, dammit !
Blades aim for the family jewels;
the grass we walk on
won’t stay down.


Yusef Komunyakaa, EUA, 1941


quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

E



Conjunção E

Vimo-nos pela primeira vez no domingo. Não, não foi assim
 já nos tínhamos visto antes mas não foi.
 Tu tomavas o  café usando a palhinha como se
 fosses uma ave errante que se detém a contemplar um cavalo num abrigo.
 E tomaste a minha mão, tomaste-me pela mão. Tomaste-me a mim.
 E a árvore dos frutos vermelhos e a montanha e a montanha.
 E rimo-nos e escutámos e, meu  Deus, todas as coisas se tornaram lixo.
 E a árvore dos frutos vermelhos e a casca e a casca grossa.                          .
 E possuiamo-nos um ao outro sem pausas como animais numa toca.
 E se cada coisa depois destes eventos é triste então não somos estas coisas.
 E crescemos entre o lixo e brincando com o lixo.
 E tu acaricias a minha pele com pequenas pérolas. E é quase janeiro
 E há  aqui, perdoa-me, uma magnólia rosa com as suas pétalas de línguas de cachorro
 que se precipitou num fundo cinza e cada vez que dou um passo
 que atravesso estes milagres, recordo o cheiro da tua mão
 arrancada de mim, arrancada de ti.


  Polina Barskova,  Rússia, 1976

   ( a tradução, do espanhol, é minha)





Союз И

Мы встретились в воскресение нет не то
Мы встречались и раньше но это было не то
Ты кофе пил через трубочку да ну и что
Голь перекатная птица залетная конь в пальто.
И ты взял меня за руку взял меня на руку взял меня.
И дерево в красных ягодах и гора и гора
И мы смеялись и слушали и Господи всё фигня
И дерево в красных ягодах и кора и кора.
И мы имели друг друга не останавливаясь как звери в бойницах нор.
И хоть всякая тварь после событья печальная да мы не всякая тварь.
И мы росли из всякого сора и мы разгребали сор.
И ты втирал мне в кожу зерна жемчужны. Вот уже и январь
И у нас тут я извиняюсь магнолии распустили песьи свои языки
Розовые на сером фоне осадков и каждый раз, проходя
Мимо этих чудес вспоминаю запах твоей руки

Оторванной от меня оторванной от тебя.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

A casa



TÃO TRISTE, A CASA


Tão triste, a casa. Como a deixam, se mantém,
Moldada no aconchego do último que sai,
Como que para tê-lo uma vez mais. Porém,
Sem gente a quem agrade, ela decai;
Não tem coragem de esquecer o roubo, nem

Se lembra do que foi muitos anos atrás — o
Alegre ensaio do que deveria ser,
Há muito malogrado. Vê-se o que era a casa
Olhando os quadros que estão lá. Cada talher.
As músicas no banco do piano. O vaso.

Philip Larkin, Inglaterra, (1922- 1985)


    (trad de Alípio Correia de F Neto)



sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

«Troubles»



Turtles

A cubit-wide turtle acting the bin lid
by the side of the canal
conjures those Belfast nights I lay awake, putting in a bid
for the police channel
as lid-bangers gave the whereabouts
of armoured cars and petrol-bombers lit one flare
after another. So many of those former sentries and scouts
have now taken up the lyre
I can’t be sure of what is and what is not.
The water, for example, has the look of tin.
Nor am I certain, given their ability to smell the rot
once the rot sets in,
that turtles have not been enlisted by some police forces
to help them recover corpses.


Paul Muldoon, Irlanda do Norte, 1951,  in  Troubles