terça-feira, 16 de maio de 2017

Como se...


Como se um raio mordesse 
meu corpo pêro rosado 
e o namorado viesse 
ou em vez do namorado 

um novilho atravessasse 
meus flancos de seda branca 
e o trajecto me deixasse 
uma açucena na anca 

como se eu apenas fosse 
o efeito de um feitiço 
um astro me desse um couce 
e eu não sofresse com isso 

como se eu já existisse 
antes do sol e da lua 
e se a morte me despisse 
eu não me sentisse nua 

como se deus cá em baixo 
fosse um cigano moreno 
como se deus fosse macho 
e as minhas coxas de feno 

como se alguém dos espaços 
me desse o nome de flor 
ou me deixasse nos braços 
este cordeiro de amor.

Natália Correia

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