quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Banksy, Avalanches and Me

Banksy


Recusarei a cinza amarga da
 comunicação incessante
 para sentir a simplicidade da chuva
 o toque do vento
o sol do instante
                no meu corpo
                 quando te invento.







terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Bruno e as folhas


Varridas e amontoadas
 as folhas
             abandonadas
 aguardam a vinda
 do vento
 a um qualquer momento...


Eu e Taigi

domingo, 24 de dezembro de 2017

Lareira

 a imobilidade da chama
 arredonda a chispa
        de solidão invernal

            Yaha e eu


sábado, 23 de dezembro de 2017

O mundo sem varandas


    Dito e feito:
   o ofício de-ver

 (...) Imagino um mundo sem varandas. Toma-me uma tristeza absoluta.
 Compadeço-me, contra a minha vontade, dessa visão.
 Comovo-me.
 Olho outra vez todas as fachadas ondulantes, toda a arquitectura se
 desfaz num bocejo.
 Perco momentaneamente o ar.
 Venho à varanda.
 Respiro.
 Volto as costas ao interior.
 Posso agora, graças ao maravilhoso invento da perspectiva, ver todas
 as varandas desenhadas sobre as linhas de fuga.
 Quase todas estão vazias.
 Que pena!
 Devem estar todos muito ocupados a habitar o interior.


          Marta Bernardes, 1983


sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Verde e verdade em sua relatividade



"A verdade só se envergonha de estar oculta."
"Calar a verdade é enterrar ouro."
"A verdade é como o azeite, mais cedo ou mais tarde vem à tona."
"Nem todas as verdades são para todos os ouvidos."

 “A verdade pode ser combatida, mas não vencida."


De la mês clara paraula
cal fer-ne vida,
do fogo que vence
e arruma
a mentira.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Correios,"curtas", gato e outras Coisas de espantar

Esta noite, no canal 2 da RTP, às 23 horas, sessão de curtas metragens a não perder, na véspera da noite mais longa e espantosa do ano.







segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Cegueira


Ceguera

Una mujer arropa el sol con una mano.
En la memoria,
un abismo de reflejos
nombra el camino.
El tacto no es más que el temblor
con el que entramos en la noche.


Laura Castillo, Colômbia, 1990


domingo, 17 de dezembro de 2017

Noite branca


Arte poética

Las hojas caen del borde de los tejados
y entran de golpe a casa de los poetas.
Sin preguntar, se instalan en las paredes,
cuestionan el silencio,
respiran sobre la pesadez de las manos,
buscan el instante en la palabra.

De golpe, el vuelo de un pájaro revienta
en el papel.
La noche entonces despierta.


Laura Castillo, Colômbia, 1990


sábado, 16 de dezembro de 2017

Pequenos clarões


   com uma lanterna na algibeira
   passeias a noite inteira:  
   entre células e embriões
   tarântulas e tubarões
   desces do mar a avenida
   à procura de verdade;
 mais útil na cidade porém 
 o vislumbre do pirilampo 
 consumindo-se no campo 
 pois na pele da mão não já flor  
 ou na auto-estrada da vida 
 o cinza é por certo a cor
 e sempre acendes a ferida.



quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Folhas secas


Folhas secas vindas de leste
 em turbilhão
 amontoam-se na calçada -
  aproxima-se o inverno


     Eu e Shiki

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

"Cerco contínuo"


 Cerco contínuo

  Alguém me abriu seus braços e andei entre seu cerco.
 E cresceram-me asas dentro de um labirinto
 que me cercou também. E levantei meu voo.
 Já sem alento, agora, cerca-me o mar de Icária.

Maria Vitória Atencia, Espanha, 1931

      ( a tradução é de José Bento)

domingo, 10 de dezembro de 2017

Obscuros actos

 VI

Los años aquí abajo pasan de largo
entre los muros carcomidos
y los árboles desnudos
y nosotros aún somos los mismos

Los sueños de ayer todavía nos embriagan
Cada día azuzan nuestros ojos el mismo fuego
y he aquí otra vez asaltándonos la abyecta risa

Pues nos sumergimos a gusto en las tinieblas
y el mundo quedó lejos de nosotros

Pues no atesoramos más que oscuros actos
abismos que abren otros enormes abismos

y en cuya vieja espiral despedazamos
los ya despedazados andrajos del amor
aquellos cuerpos ya perdidos para siempre


       Elí Urbina, Perú, 1989


sábado, 9 de dezembro de 2017

Vales


DAVANT DEL RAM

Davant del ram, 
damunt els extraordinaris
materials aflorants, 
davant la terra
enflorada de valls i les valls
d’esbadellar-se la terra,
per entre els marcits abismes
i els costers aponcellats,
em pregunto, a cada vall,
quines muntanyes l’han desclosa.



 Perejaume

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Na TV, o sangue não transborda


Mejor nos quedamos a ver la tele (buenas excusas)

¿Qué otra cosa puedo decirte?
La sangre se agolpa en las calles
Se estrella en el Palacio de Gobierno
Y en el rostro de un jefe de oficina
Se agolpa en el cantar de las aves
Y también en los comercios del centro
La sangre corre por todos lados
¡No se está a salvo ni en el baño, tigre!
Ni para comprarte bombones se puede
Para ir a la florería hay que traer escolta
¿Y te atreves a decir que quieres ir al museo?
No estarás tú para saberlo, pero la Casa Azul
Ya no es más azul, ya nada es más azul,
ni el cielo
Ahora todo se tornó violentamente rojo
Como la sangre que se agolpa en las calles
Como las sucias manos de nuestro regente
Rojo, como Rojo Amanecer con María Rojo
Y para ver casas rojas, mi amor,
no hace falta ir tan lejos.


Leonardo Ismael Ruiz Díaz, México (1993)


quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Sem amarras


                                                 Não me amarraram ao mastro
e
na imobilidade das horas
por longo tempo escutei
o canto
singrando em
rochosa reverberação
de um mar hoje
morto e onde
então mergulhei


segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

"Chamados a comparecer"


CRIDATS A COMPARÈIXER

De no dir-les
les paraules se m’han dit. 
Quan anostrem un lloc
és ell que se’ns posa a la boca. 
És ella que ens sorolla,
la paraula a qui ens donem,
dòcils al sentit
que es deixa prendre,
com una boca que li fóssim.
Que és sempre ella,
la paraula,
que dubta de venir-nos
de deixar-se, o no, venir.

Perejaume, Espanha, 1957

domingo, 3 de dezembro de 2017

Precariedade existencial


Soneto

Nunca procurei
 enganar a vida
 e não vou dizer
 que ela me enganou

Não: a vida tem sido
 honesta comigo
 O problema é
 dar-lhe carta branca

Pois a minha precariedade
 é – acima de
 tudo - existencial

Contra ela não há
 contrato ou vínculo
 que me valha


Manuel A. Domingos, 1977

sábado, 2 de dezembro de 2017

Canções de inocência

Luísa e Salvador Sobral

Canção de inocência

Não acreditávamos nos velhos provérbios
 que vaticinam que a ventura é breve
 e o amor um enganoso fruto de coração incerto.

 Não acreditávamos nos velhos provérbios
 e fizemos bem, quem poderá negar que durante um tempo
 fomos felizes, semelhantes a deuses,
 que nunca então o medo nos tocou
 nem era possível incerteza nos nossos sonhos.

Não acreditávamos nos velhos provérbios...
 Mas isto era ainda no tempo em que
 desconhecíamos as sombras e os ardis,
 os tribunais funestos que o amor ampara
 e os tributos amargos que depois exige o desamor.

    Silvia Ugidos, Espanha, 1972


 ( tradução de Joaquim M. Magalhães)

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

O amor deixa tudo mais limpo?

  Blues

 a casa é um nojo sem ti o lava-loiça o quarto
 de banho os lençóis sujos a comida a apodrecer
 no frigorífico tu melhor que ninguém sabes que difícil

 é conviver com um tipo como eu incapaz de enfrentar
 assuntos tais como lavar a roupa o cesto
 das compras a escolha de detergente ou a solidão

 a minha vida é um nojo sem ti.

Pablo García Casado, Espanha, 1972


    (tradução de Joaquim M. Magalhães)