sábado, 23 de dezembro de 2017

O mundo sem varandas


    Dito e feito:
   o ofício de-ver

 (...) Imagino um mundo sem varandas. Toma-me uma tristeza absoluta.
 Compadeço-me, contra a minha vontade, dessa visão.
 Comovo-me.
 Olho outra vez todas as fachadas ondulantes, toda a arquitectura se
 desfaz num bocejo.
 Perco momentaneamente o ar.
 Venho à varanda.
 Respiro.
 Volto as costas ao interior.
 Posso agora, graças ao maravilhoso invento da perspectiva, ver todas
 as varandas desenhadas sobre as linhas de fuga.
 Quase todas estão vazias.
 Que pena!
 Devem estar todos muito ocupados a habitar o interior.


          Marta Bernardes, 1983


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