sábado, 14 de dezembro de 2019

Língua ressuscitada



(…) Sinto a língua morta/ o latim vai mudar (…) R.R.

Sine fides sed cum cura
 confiteor
 sunt virtutibus vitia confinis
 confit de connards
 terrulae finis
 terror mortis
 confiteor
 écriture hivernale
confiture
confinée
Il fait mauvais!



sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Neve genebrina



Genebra

Vivos ainda os cisnes sob a neve
 os cisnes fluviais nevados
sobre o ródano
curtos os cavalos da montanha e as pernas 
cavalos de pata curta das montanhas
a bota na essência
 neve noturna para os do turno da noite
 para os imigrantes a pé na montanha
 fidelidade garantida
 flocos miúdos de neve genebrina
 para as vacas brancas
 buscando

Natália Azarova, Rússia (1956)

(a tradução, do espanhol, foi feita por mim)

terça-feira, 19 de novembro de 2019

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Tudo "trans"...

...em trânsito para outro estado, outro país,
outro género,
                     outro humor, outro amor,
                                                sexo outro,
outra casa,
outras "janelas de oportunidades",
      outra droga, folia outra e
  outras menoridades.
Em redor, dramas surdos se vivenciam: ninguém suspeita,
        ninguém quer saber- e eu até acho bem.
 A seu tempo virão,
              porque a todos tocam




sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Todos-os-santos ou Finados?


   todo o ente esquecido
     seja ele santo ou não
 é como se tivesse morrido
    nem precisa de caixão

     crisântemos
     margaridas
lama de folhas perdidas
   única a sua estação

dias como cogumelos
     os belos
  por um funil
- mesmo quando chega abril...

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Saudades do David

H. Castro
Carla A.

Ó meu amor, meu amor
Ó meu amor, folha larga
Quando o vento vem do norte
Trago a faca na ilharga.

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

A caixa do gnomo



durante o passeio
num bosque formoso
encontrei
         a meio
a caixa de cartão

 Abri-a: 
estava vazia
pousada no chão

  grande foi o gozo
no bosque formoso!


terça-feira, 22 de outubro de 2019

«Redonde»



C’est toujours un peu tard que tu pleures
emmailloté dans ton habit bleu
qu’aura maculé de brun la guerre
de sang tout encroûté, de gros bleu.
C’est sur la bêtise que tu pleures

poilu, soldat de dieu, casque bleu
sur les désastres des grandes guerres.
S’il reste du carburant, tu pleures
encore sur les petites guerres
celles pour les débutants, la bleu-

saille, enfin sur les moyennes guerres.
Et toi, là, qui par contre ne pleures
pas, tu en redemandes des bleus
des coups, des plaies, des bosses. Tu pleures
de ne les rendre qu’en temps de guerre.


                   Avec trois mots pris dans les titres de
                   Frank Venaille

                                                   in Poèmes avec partenaires, P.O.L., 2002

                                                           Jacques Jouet  França



quarta-feira, 16 de outubro de 2019

2 poemas de um curdo-turco


 Aqui jaz qualquer poema
 Eu dentro
 Tu fora do poema
 Eu água
 Tu a correnteza do poema
 Para só sair lentamente do espaço em que dura
 Longe de qualquer permanência.

Seyhmus Dagtekin (1964)



Quando te retiras do mundo
O mundo não pára por isso,
Não se retira.
Quando vais para o vasto mundo
Não te tornas vasto por isso.
Quando te privas da multidão
Não ocupas com isso a tua solidão
Não a expandes.
Quando te expulsas do barulho
Não descobres com isso o silêncio.
Quando cortas os teus ramos
Não aumentas, ao fazê-lo, 
A seiva que irriga a tua fronte.
                                                        (traduzidos, do francês, por mim)

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Na crista da onda...


 ce qu'ont les yeux
 mal vu de bien
 les doigts laissé
 de bien filer
 serre-les bien
 les doigts les yeux
 le bien revient
 en mieux

S. BECKETT


sábado, 21 de setembro de 2019

Para a Greta



Riachos cavalgam a calçada
desaguando nos bueiros- quando os há
Na correnteza o rio arrasta o brilho do sol
 o mar aquece um pouco mais
 Em terras do longe o gelo desfaz-se
 em terras bem perto as águas avançam
 O silêncio é ouro…
mas tu chegas e falas
  superando-te
menina-coragem