sábado, 30 de março de 2019

Phonogénique




 Malgré la rétention                 
                                            barrages et écluses s'effrondront.

                                                Tout retentit déjà
                                               Voici...       Vois là!

quarta-feira, 27 de março de 2019

Todos os sentidos


          ... como se a minha missão fosse o registo

                                      das cores,

 sons,

cheiros ,

sabores...



quinta-feira, 21 de março de 2019

Só por vezes...


E por vezes sorrimos
- não choramos
quando num só dia
 celebramos poesia
  música
 flores nos ramos
E por vezes 
num segundo
encontramos
tudo aquilo que
 no mundo
procuramos



quinta-feira, 14 de março de 2019

Com Heráclito, no lusco-fusco



Quase parado o corpo balança 
 sem saber que direção tomará
 exala um desespero contido
 - brasas seda fetos e vento
 foram sempre o seu vestido-
  hesita e freme
     dividido
 e a mão que treme
incapaz de suster-lhe o movimento
afasta a água que corre
espelho acelerado do tempo.



terça-feira, 12 de março de 2019

Espaço


       Espaço


 Eu não sei por que razão
 me sento assim, na cabeça o chapéu do
 universo e as mãos num frenesim.
 Não estou cansado nem triste
 vejo brancura, torres da planura
 toco na tinta, nas palmas das mãos um paraíso
 de fala. As letras espalham-se sobre estilhaços de
 nuvens como presas caem numa armadilha.
Não sei porquê
 por isso começo
 entrego o corpo à seda das surpresas,
 sucumbo, alucinando estrelas cadentes,
 e sigo a reverberação dos anjos
 porque glorificam a ambiguidade. Eu não sei como,
 mas imploro ao Segredo que me escolha como escravo
 para que eu possa escrever, para tecer espelhos e
 decorar formas para uma envelhecida brancura que muda.
Talvez os mortos se ergam nas suas coloridas camisas.
Talvez choquem os cálices e troquem brindes numa manhã clamorosa.
Então o vinho perde a força:
fala comigo como um amigo, exausto da viagem.
E nesse momento sei que eu era o sonho e
o sonho permaneceu, que sou água na galáxia
 do poema.

        Qassim Haddad, Bareihn, 1947
       (a tradução, do inglês, foi feita por mim)



sexta-feira, 8 de março de 2019

Uma antepassada muito avançada...



"… Afirmámos que nada teria consequências mais desastrosas para as nossas ideias do que minimizar o efeito do interior sobre o exterior, dos motivos e das necessidades psicológicas sobre as instituições existentes.
 Acrescentámos que, em certos meios, se cometia o erro de pensar que a organização além de não promover a liberdade individual, significava o declínio da individualidade. De facto, a função da organização é ajudar no desenvolvimento e expansão da personalidade. Assim como a cooperação mútua permite que as células animais manifestem os seus poderes latentes na criação de um organismo completo, a individualidade atinge a sua forma mais elevada de desenvolvimento através do esforço cooperativo com outras individualidades. Uma organização, no sentido próprio, não pode resultar da simples associação de não-seres. Deve agrupar individualidades auto-conscientes e inteligentes. De facto, o conjunto das potencialidades e atividades de uma organização traduz-se na expressão de energias individuais. O anarquismo afirma a possibilidade de uma organização livre de qualquer disciplina, medo ou castigo e isenta da pressão da miséria: uma nova organização social que porá fim à luta pela subsistência, essa luta feroz que mina as melhores qualidades dos homens e aumenta constantemente a voragem social. Em suma, o anarquismo aspira a uma organização da sociedade que estabeleça o bem-estar para todos ".

                                   Emma Goldman, excerto de Living my life
                                                    ( a tradução, do francês, foi feita por mim)


terça-feira, 5 de março de 2019

Telemóveis e outros toques


Março e o focinho de cão
          voltarão.
Para esquecer a tristeza
 que no mundo se instala,
 bebem e conversam amigos
     sem televisão na sala:
   ligam o computador
  e abrem bem os ouvidos:
  p'ra quê tomar comprimidos
   se ao ritmo de Osiris
   abrem e fecham a íris
   e dizem adeus à dor?


domingo, 3 de março de 2019

Giras



                                                                Girafas

A cabeça pequena, os olhos pestanudos, o volume das ancas
O comprimento das pernas, o desfiladeiro do pescoço
- tudo me faz lembrar alguém, alguma coisa, não sei bem


                                                         Rui Caeiro



  " animal pouco conversacional"
 só quando sonha fala,
      ou melhor,
          emite um zunido
            do alto dos seus
           lábios herbívoros