Espaço
Eu não sei por que
razão
me sento assim, na
cabeça o chapéu do
universo e as mãos num
frenesim.
Não estou cansado nem
triste
vejo brancura, torres da planura
toco na tinta, nas palmas das mãos um paraíso
de fala. As letras espalham-se
sobre estilhaços de
nuvens como presas
caem numa armadilha.
Não sei porquê
por isso começo
entrego o corpo à
seda das surpresas,
sucumbo, alucinando estrelas cadentes,
e sigo a reverberação
dos anjos
porque glorificam a
ambiguidade. Eu não sei como,
mas imploro ao Segredo
que me escolha como escravo
para que eu possa
escrever, para tecer espelhos e
decorar formas para
uma envelhecida brancura que muda.
Talvez os mortos se ergam nas suas coloridas camisas.
Talvez choquem os cálices e troquem brindes numa manhã
clamorosa.
Então o vinho perde a força:
fala comigo como um amigo, exausto da viagem.
E nesse momento sei
que eu era o sonho e
o sonho permaneceu, que sou água na galáxia
do poema.
Qassim Haddad, Bareihn, 1947
(a tradução, do inglês, foi feita por mim)