terça-feira, 12 de março de 2019

Espaço


       Espaço


 Eu não sei por que razão
 me sento assim, na cabeça o chapéu do
 universo e as mãos num frenesim.
 Não estou cansado nem triste
 vejo brancura, torres da planura
 toco na tinta, nas palmas das mãos um paraíso
 de fala. As letras espalham-se sobre estilhaços de
 nuvens como presas caem numa armadilha.
Não sei porquê
 por isso começo
 entrego o corpo à seda das surpresas,
 sucumbo, alucinando estrelas cadentes,
 e sigo a reverberação dos anjos
 porque glorificam a ambiguidade. Eu não sei como,
 mas imploro ao Segredo que me escolha como escravo
 para que eu possa escrever, para tecer espelhos e
 decorar formas para uma envelhecida brancura que muda.
Talvez os mortos se ergam nas suas coloridas camisas.
Talvez choquem os cálices e troquem brindes numa manhã clamorosa.
Então o vinho perde a força:
fala comigo como um amigo, exausto da viagem.
E nesse momento sei que eu era o sonho e
o sonho permaneceu, que sou água na galáxia
 do poema.

        Qassim Haddad, Bareihn, 1947
       (a tradução, do inglês, foi feita por mim)



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