Remorso por qualquer morte
Livre da memória e da esperança,
ilimitado, abstrato, quase futuro,
o morto não é um morto: é a morte.
Como o Deus dos místicos,
de Quem todos os predicados devem ser negados,
o morto ubiquamente alheio
nada mais é do que a perdição e ausência do mundo.
Tudo dele roubamos,
não lhe deixamos nem uma cor nem uma sílaba:
aqui está o pátio que já não compartilham seus olhos,
ali a calçada de onde espreitavam suas esperanças.
Mesmo o que pensamos poderia estar pensando ele também;
dividimos como ladrões
o fluir das noites e dos dias.
Jorge Luis Borges, Argentina (1899-1986)
- tradução p.b de Nelson Santander-
Sem comentários:
Enviar um comentário