As magnólias rescendentes resplandecem imóveis
há sempre algumas
que caem.
Encerrei na sua caixa
a minha guitarra de jaspe
arrumei a minha
flauta de jade.
Só, só
com o meu coração
que bate.
Ficai comigo esta
noite,
canções de
outrora.
Lieou Ki, China
(1311-1375)
-a tradução, do francês, é minha-
O
cavaleiro
Permanecendo
firme sob o calor do sol
e o açoite da chuva
passando por ele dia e noite
passado e futuro
as quatro estações
esperou o grande momento
com as feridas enroupadas de esquecimento
(quando visse o dragão cujos olhos cospem
fogo)
quando
ele veio
correu
bateu
em retirada
dobrou-se
para trás
inclinou-se
caiu
como
uma tempestade
cravando a sua lança na face do Nada.
Fayis
Suyyagh,
Palestina (1941)
- tradução de Adalberto Alves-
Deixo a
cor sangue para os colonizadores
e para os seus toureiros…
Diante do grande quadrado dedicado às crianças
da Palestina Gaza Jerusalém
Hebron Deir Yassine Jénine…
APENAS
Papagaios
de papel
e balões brancos
Peço à
areia que os cubra a todos
com uma manta tépida e terna
Peço à lua pincelada de azul
às miríades de estrelas que os velem…
ao vento que debulhe os seus nomes
sobre todos os continentes…
Olivia
Elias,
Palestina
Tu e Eu
Outrora:
O corpo sombra do corpo O som eco do som Ouro intacto e brilhante
Hoje:
Nuvem fugindo do aguaceiro Folha morta e o ramo Luzes de estrelas mortas
Fou Hiuan, China (217-278)
(a versão- do francês-é minha)
um vento que vem do mar
sem que o mar se veja.
L’homme est un drôle de corps, qui n’a pas son
centre de gravité en lui-même.
Notre âme est transitive. Il lui faut un objet, qui l’affecte, comme son
complément direct, aussitôt.
Il s’agit du rapport le plus grave (non du tout de l’avoir, mais de l’être).
L’artiste, plus que tout autre homme, en reçoit la charge, accuse le coup.
Par
bonheur pourtant, qu’est-ce que l’être ? – Il n’est que des façons
d’être, successives. Il en est autant que d’objets. Autant que de battements de
paupières.
(…)
Ne
serions-nous qu’un corps, sans doute serions-nous en équilibre avec la nature.
Mais notre âme est du même côté que nous dans la balance.
Lourde ou légère, je ne sais.
Mémoire, imagination, affects immédiats, l’alourdissent ; toutefois, nous avons
la parole (ou quelqu’autre moyen d’expression). Chaque mot que nous prononçons
nous allège. Dans l’écriture, il passe même de l’autre côté.
Lourds ou légers donc je ne sais, nous avons besoin d’un contrepoids.
in L’objet c’est la poétique, Gallimard, 1967
Francis Ponge, França (1899-1988)
Perplexidade
Oh
guardião da buganvília
a noite
vai caindo das
ondas apagadas
vai caindo
dos miradouros
que entregam as suas velas
às estrelas
desnudas entre
as gazelas
Que observas
então
na pureza da água
na nobreza
de um estertor
cujo lodo esquadrinhas
Mohammed Bennís, Marrocos, 1948
( a tradução, do espanhol, foi feita por mim)
N’écris pas, je suis triste et je voudrais m’éteindre.
Les beaux étés, sans toi, c’est l’amour sans flambeau.
J’ai refermé mes bras qui ne peuvent t’atteindre
Et frapper à mon cœur, c’est frapper au tombeau.
N’écris pas, n’apprenons qu’à mourir à nous-mêmes.
Ne demande qu’à Dieu, qu’à toi si je t’aimais.
Au fond de ton silence, écouter que tu m’aimes,
C’est entendre le ciel sans y monter jamais.
N’écris pas, je te crains, j’ai peur de ma mémoire.
Elle a gardé ta voix qui m’appelle souvent.
Ne montre pas l’eau vive à qui ne peut la boire.
Une chère écriture est un portrait vivant.
N’écris pas ces deux mots que je n’ose plus lire.
Il semble que ta voix les répand sur mon cœur,
Que je les vois briller à travers ton sourire.
Il semble qu’un baiser les empreint sur mon cœur.
N’écris pas, n’apprenons qu’à mourir à nous-mêmes.
Ne demande qu’à Dieu, qu’à toi si je t’aimais.
Au fond de ton silence, écouter que tu m’aimes,
C’est entendre le ciel sans y monter jamais.
N’écris pas!
Marceline Desbordes -Valmore, França (1786-1859)
Amour
Antonin Artaud (1896-1948)
GROTTO
Não quero nada claro ou helénico.
Prefiro turbinas de aviões comerciais, a sua fuligem
doméstica
às velas de alabastro do veleiro de Ulisses
lá em mar alto.
Prefiro o eclipse a Calipso.
Não quero nada de verdadeiramente branco.
Dispenso a asa delta de garças,
o seu voo aerodinâmico,
troco-o pela arribação de ratos no esgoto,
a sua pressa chinesa,
o seu stress pós-traumático:
orgulham-me criaturas tão limpas.
Assim também recuso o papel branco:
trato de o desfigurar
com sangue negro, como se desfigura
um branco em Harlem.
Não quero começar a imaginar como se sentiriam
escravos nos campos de algodão.
Daniel Jonas, (1973)
Invitation au voyage
AD L………
os inícios são
muitas vezes assim:
se há faltas,
é na montagem
que se descobrem,
antes não!
então Jeová
não deu o exemplo
com a falha de Eva?
pois, parece, e ela
não era só defeitos,
como dizem os Santos!
e para quê?
para ver se o Adão
resistia…
e viu?
tudo previsto;
era o primeiro homem:
desejo, hesitação,
fim.
Alberto Pimenta, in Ilhíada
