quarta-feira, 26 de outubro de 2022

«Tanto ser diverso»

 

Tanto ser diverso (tantos deuses e demónios

este mais ávido que aquele) é um homem

 

(tão facilmente um se esconde no outro;

e no entanto, cada um, sendo todos, não escapa de ninguém)

 

tumulto tão vasto é o desejo mais simples:

tão cruel extermínio a esperança

mais inocente (tão profundo o espírito do corpo,

tão lúcido isso a que a vigília chama sonho)

 

tão solitário e tão jamais o homem só

o seu mais breve pulsar dura um ano terrestre

os seus mais longos anos o pulsar de um sol;

a sua mais leve quietude transporta- o à estrela mais jovem

 

Como poderia esse excesso que a si mesmo se

                                                            denomina Eu

atrever-se a compreender o seu inumerável Quem?

 

E. E. Cummings, EUA, (1894-1962)

   - transversão de Zetho C. Gonçalves-



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