quarta-feira, 2 de março de 2016

Ar


    RITMO

 Involuntário e tão banal
 este contínuo inspirar
 fundo ou leve ou mesmo
 intensamente irregulado
 ofegante ou sísmico. Por vezes
 chama-nos uma desistência funda
 e dorida desse obrigatório ritmo,
 esquecidos de que nenhuma pátria
 ou ideal é maior e mais gratuito
 que esse composto cada vez mais
 em desfalque oxigenado
 que nos invade docemente as altas
 narinas, percorre canais e membranas
 e desce democraticamente
 às saídas menos nobres.


 Inês Lourenço (1947)



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