(...) As palavras
estão velhas, ridículas. Mercadoria estragada, restos que por esquecimento se
não limparam. Repugnante. As palavras ficam no exterior da cidade, nas zonas de
entulho. Às palavras, lançam-se-lhes pedras, aos loucos, escarra-se-lhes em
cima. As palavras loucas seguem o seu caminho, sozinhas sem amor. Arrastam-se
moribundas, vão para o hospital e pedem que as capem.
Cedem. As palavras
aceitam o silêncio.
Mas eu estou em crer
que dantes existiam as palavras vivas. Deve ter havido nalgum sítio uma guerra
invisível que destruiu tudo, uma permanência prolongada num asilo, algum
medicamento, uma guerra química na consciência. Esqueci. (...)
Emma Santos,
França (1943- 1983)
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