IV
ADICIONEI os
meus dias e não te encontrei
nunca, em sítio
nenhum, para me tomares a mão
no clamor dos abismos e na minha barafunda de
estrelas!
Tomaram uns o Saber e
outros o Poder
a escuridão rasgando a duras penas
e pequenas máscaras,
de alegria e tristeza,
ajustando à
face arruinada.
Eu é que não, não
ajustei máscaras,
deitei para trás de mim alegria e
tristeza
pródigo deitei para
trás de mim
o Poder e o Saber.
Adicionei os meus dias
e fiquei sózinho.
Disseram uns: porquê? Este também há-de
viver
na casa com vasos e a
branca noiva.
Cavalos de pêlo fulvo e negro acenderam-me
a obstinação por
outras mais brancas Helenas!
Almejei outra mais secreta bravura
e aí onde me
impediram, invisível, fui a galope
restituir as chuvas aos campos
e recuperar o sangue
dos meus mortos insepultos!
Disseram outros: porquê? Este também
há-de conhecer,
até ele, a vida nos
olhos do outro.
Não vi olhos
de outrem, não encontrei nada
senão lágrimas no vazio que abraçava
senão
borrascas na serenidade que suportava.
Adicionei os meus dias e não te encontrei
e enverguei
as armas e saí sozinho
para o clamor dos abismos e a minha barafunda de estrelas!
Odysséas Elytis, Grécia
(1911-1995)
(
tradução de Manuel Resende)
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