sexta-feira, 8 de julho de 2016

Barafunda de estrelas

  IV

        ADICIONEI os meus dias e não te encontrei
 nunca, em sítio nenhum, para me tomares a mão
       no clamor dos abismos e na minha barafunda de estrelas!
 Tomaram uns o Saber e outros o Poder
       a escuridão rasgando a duras penas
 e pequenas máscaras, de alegria e tristeza,
        ajustando à face arruinada.
 Eu é que não, não ajustei máscaras,
        deitei para trás de mim alegria e tristeza
 pródigo deitei para trás de mim
        o Poder e o Saber.
 Adicionei os meus dias e fiquei sózinho.
         Disseram uns: porquê? Este também há-de viver
 na casa com vasos e a branca noiva.
         Cavalos de pêlo fulvo e negro acenderam-me
 a obstinação por outras mais brancas Helenas!
        Almejei outra mais secreta bravura
 e aí onde me impediram, invisível, fui a galope
          restituir as chuvas aos campos
 e recuperar o sangue dos meus mortos insepultos!
           Disseram outros: porquê? Este também há-de conhecer,
 até ele, a vida nos olhos do outro.
         Não vi olhos de outrem, não encontrei nada
senão lágrimas no vazio que abraçava
        senão borrascas na serenidade que suportava.
Adicionei os meus dias e não te encontrei
         e enverguei as armas e saí sozinho
para o clamor dos abismos e a minha barafunda de estrelas!

                 Odysséas Elytis, Grécia (1911-1995)

                     ( tradução de Manuel Resende)



Sem comentários: