quinta-feira, 14 de julho de 2016

Louvação


(...)    LOUVADA SEJA a lágrima espontânea
 que lentamente nasce nos formosos olhos
         dos jovens que se tomam pela mão
 dos jovens que se olham e não falam

         O balbuciar dos namorados sobre as rochas
 um farol que deslaça a tristeza dos séculos
         o grilo persistente como o remorso
 e o xaile abandonado na brisa da noite

             A MENTA áspera e perjura entre os dentes
 dois lábios que não podem consentir  e no entanto
            o «adeus» que brilha um momento nas pestanas
 e depois o mundo turvo para sempre

            O lento e pesado orgão das tempestades
 Heráclito na sua voz arruinada
              o outro lado invisível dos assassinos
 o pequeno «porquê» que ficou sem resposta

             LOUVADA SEJA a mão que regressa
 do crime terrível e sabe agora
             qual é em verdade o mundo superior
 qual é o «agora» e o «sempre» do mundo:

AGORA a fera do mirto Agora o grito de Maio
 SEMPRE a consciência extrema Sempre a lua cheia

Agora agora a ilusão e a mímica do sono
 Sempre sempre a palavra e a Quilha estrelada

Agora o movimento da nuvem dos lepidópteros
Sempre a luz circundante dos mistérios

Agora a crosta da Terra e a Potência
 Sempre o pão da Alma e a quintessência

 Agora a incurável negrura da Lua
 Sempre o brilho azul dourado da Galáxia

Agora a amálgama dos povos e o negro Número
 Sempre a estátua da Justiça e o grande Olhar

Agora o declinar dos Deuses Agora a cinza do Homem
 Agora Agora o nada
                                e Sempre o mundo pequeno, o Grande!


Odysséas Elytis, excerto final de Áxion Estí, (publicado em 1959)


Sem comentários: