quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Violinos violoncelos e inovação


Sobre N Paganini (1782-1840) ler A ladainha da dor, in Prosas Bárbaras, de Eça de Queirós

       VIOLONCELO
Chorai arcadas
Do violoncelo!
Convulsionadas,
Pontes aladas
De pesadelo...

De que esvoaçam,
Brancos, os arcos...
Por baixo passam,
Se despedaçam,
No rio, os barcos.

Fundas, soluçam
Caudais de choro...
Que ruínas, (ouçam)!
Se se debruçam,
Que sorvedouro!...

Trémulos astros...
Soidões lacustres...
—: Lemes e mastros...
E os alabastros
Dos balaústres!

Urnas quebradas!
Blocos de gelo...
— Chorai arcadas,
Despedaçadas,
Do violoncelo.

Camilo Pessanha (1867-1926)

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Outono peruano- à suivre...


(...)No es que 
  No si mi mano no ha tenido historia
  Ni sabe más del otoño
 Que la preponderancia de aves
 Hojas secas
 Plumas muertas
 La sangre cubre los árboles
 El silencio se pinta una extraña figura
 Medita en el destino de una línea para arriba
 O para bajo
 Siempre concluye en paralela a la muerte de los cisnes
 Esto no tiene explicación
 Si te pones el pulgar a dos centímetros de ese mismo pulgar
 El otoño no quiere morir
 Yo también tengo pico pico pico
 Un día no hay flores y el otoño se sube a una nube
 Los brazos son finos si no fuera por esa línea
 Acaso oyera mi corazón
 Está declarado a sus resonancias
 A las de otro corazón
 Este es el destino del otoño
 Su presencia y una luna que aparece de para llegar a
 Es una falsa espiral para cazar insectos
 Se llega de 
O una estampa triste el otoño una vaca(...)


domingo, 23 de outubro de 2016

Outono- com violinos variados


Chanson d’automne

Les sanglots longs

Des violons
De l'automne
Blessent mon coeur
D'une langueur monotone.

Tout suffocant
Et blême, quand
Sonne l'heure,
Je me souviens
Des jours anciens
Et je pleure;

Et je m'en vais
Au vent mauvais
Qui m'emporte
Deci, delà,
Pareil à la
Feuille morte.

Les sanglots longs
Des violons
De l'automne
Blessent mon coeur
D'une langueur monotone.



Paul Verlaine / Léo Ferré,  


sexta-feira, 21 de outubro de 2016

« uma pequenina luz», bruxuleante brilha



                              Não há texto hoje. A poesia é pra ser ouvida e comida.




quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Poetas sem louros 2: «Canção do sal»


Trabalhando o sal é amor é o suor que me sai
Vou viver cantando o dia tão quente que faz 
Homem ver criança buscando conchinhas no mar
 Trabalho o dia inteiro pra vida de gente levar

 Água vira sal lá na salina
 Quem diminuiu água do mar
Água enfrenta sol lá na salina 
Sol que vai queimando até queimar

Trabalhando o sal pra ver a mulher se vestir
 E ao chegar em casa encontrar a família sorrir
 Filho vir da escola problema maior é o de estudar
 Que é pra não ter meu trabalho e vida de gente levar

não sei quem é o autor da letra

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Outono de novo


    HOJAS SECAS PARA TAPAR...

 Hojas secas para tapar un límite de inolvidables
            rumores
 El otoño tiene el desencanto del que todo busca
 Unas pestañas anuncian la hora más a la altura del
           vago ruiseñor distraído
 Evidencia
 Memoria
 Sin memoria
 Aparecen los días con alguna nostalgia
 Tal vez nunca se ha dado más el otoño a la angustia
            del hombre
 Los periódicos anuncian una buena cocinera
 Un canario
 O un perro amaestrado en el arte de pelar las
           cebollas
 Nadie dice buenos días al cortejo fúnebre
 Ni a los bueyes asesinados para satisfacer una
         conclusión
 El preciso momento
 La imagen de las aves sus picos de sueño bárbaro
 El otoño no tiene secretos
 La noche se aísla de los árboles
 Las alas cubren el sueño
 Los ocultos picos
 Pequeños aunque hagan signos pequeños signos

 hacen los picos (...) 




terça-feira, 18 de outubro de 2016

Eólicas


O vento há-de levar-nos

Na minha noite, na noite, ai de mim, tão breve
o vento marca encontro com as folhas das árvores
na minha pequena noite onde há
agónica destruição
Escuta
ouves o sopro da escuridão?
Essa beatitude nada me diz
É no desespero que sou feliz

Escuta, ouves o sopro da escuridão?
Algo acontece na noite
a lua encarnada de inquietação
e por cima deste telhado
em risco iminente de desabar
nuvens
qual  carpideiras em procissão
o momento da chuva parecem aguardar
Um momento
e depois nada
A noite estremece por trás da janela
e a terra roda hesitante
Atrás desta janela
algo desconhecido nos observa

Ó tu, verde da cabeça aos pés
como uma memória a arder
 põe as tuas mãos
nas minhas mãos de amor
numa quente percepção do ser
 oferece os teus lábios
 às carícias dos meus lábios de amor
o vento há-de levar-nos
o vento há-de levar-nos


Forough Farrokhzad, Irão ( 1935-1967)
( a tradução, do inglês, é minha)

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Poetas sem louros 1

Voos Domésticos  

Se a tua cama voasse
Alguém sugerisse
Para aterrar aqui

E então se tropeçasse
Num tapete mágico
E caísse em mim

Sinto a turbulência
Pela tua ausência
Adivinha quem és?

Soa a campainha
Suave na cozinha
O jantar é “gourmet”

Num gesto de avareza
Só pago a sobremesa
Talvez um café

Ai  a turbulência
É da tua ausência
Dize lá quem és!

Na torre de controle
Fantasma no lençol
Adivinha quem é?

Mas sinto a turbulência
E a tua ausência
Diz-me tu quem és?

E a violência
Doméstica a cedência
Lanço-me aos teus pés

Na torre de controle
Fantasma no lençol
Adivinha quem sou!


Rui Reininho / Tóli C. Machado
 ( in Voos Domésticos, 1995)


domingo, 16 de outubro de 2016

Lava


Del fuego viene y en él acaba toda música...

Del fuego viene y en él acaba toda música
No hay diferencia entre música en incendio.
Las columnas del sonido concluyen en llamas.
Borbotean en el fuego las músicas.
Un magma ardiente danza y se arrebata.
Descuartícenme al fuego de la música-
En rescoldos de música entiérrenme
La dulce y terrorífica música
retiempla aire y ánimo.


E.A. Westphalen, Peru (1911-2001)


Todavía existe la buena Poesía – juntémonos a su alrededor y oigamos lo que nos dice. El volcán ruge – mientras ruja tenemos tiempo para la danza el canto la Poesía – si viene la lava nos cogerá en nuestro mejor momento. WESTPHALEN, 1995.

sábado, 15 de outubro de 2016

« Forever young»



May God bless and keep you always
May your wishes all come true
May you always do for others
And let others do for you
May you build a ladder to the stars
And climb on every rung
May you stay forever young
Forever young, forever young
May you stay forever young.

May you grow up to be righteous
May you grow up to be true
May you always know the truth
And see the lights surrounding you
May you always be courageous
Stand upright and be strong
May you stay forever young
Forever young, forever young
May you stay forever young.

May your hands always be busy
May your feet always be swift
May you have a strong foundation
When the winds of changes shift
May your heart always be joyful
And may your song always be sung
May you stay forever young
Forever young, forever young
May you stay forever young.


Bob Dylan




sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Com o vento na voz


           Colhendo cogumelos
a minha voz
                       torna-se vento

Shiki, Japão (1867-1902)
a tradução, do francês, é minha
















quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Alba: o Beagle e a Arca de Noé cruzando-se






Súbdito só de quem não reina,
aqui louvo os animais.
Há entre mim e eles, uma funda
relação de videntes:
as paisagens que fendem
e a minha, sepulta,
perfazem um mesmo habitat.
Desde que os não sondo,
fez-se luz em nosso convívio.
O ar inicial
que ensaiava, icárico,
nas bolas de sabão,
mas não atina com o vácuo
da cidade, vem-me
dos meus pulmões arborescentes.
Alheios à sua pele
na osmose dos textos,
ignoram que nas águas
por correr, desta página,
cruzam, saudando-se,
o “Beagle” e a Arca de Noé.


Sebastião Alba

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Outono


É o Décimo Mês
a parte nenhuma vou
     ninguém aqui vem

Shôhaku, Japão (1443-1527)

Noite de outono-
há uma felicidade própria
       na solidão

Buson, Japão (1715-1783)


( traduzi, do francês, os 2 poemas) 



segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Cartas portuguesas do dragão

Uma sota em cima da mesa
4 espadas apontadas para ela
 2 paus para serem empunhados
Um cavaleiro e um dragão
de copas,
 de cócoras
puxam-lhe o vestido dourado
A rainha baralha
corta o rei
o par faz uma mão
o povo assiste

Não há sequência...



domingo, 9 de outubro de 2016

« Anónimo »







                                             2 fotografias de fotografias de José Luís Neto


segunda-feira, 3 de outubro de 2016

domingo, 2 de outubro de 2016

Trans Lúcida


DECLARAÇÃO DE INTENÇÕES

Para aqueles que insistem em diluir
isto que escrevo aquilo que eu vivo
é mesmo assim, embora aluda aqui
a requintes que com rigor esquivo.


À língua deito lume, o que invoco
te chama e chama além de ti, mas versos
são uma disciplina que macera
o corpo e exaspera quanto toco.


Fazer poesia é árido cilício,
mesmo que ateie o sangue, apenas pus
se extrai, nem nunca pela escrita


um sólido balança, ou se levita.
Então sobre o poema, o artifício,
a borra baça, a mim a extrema luz.



Margarida Vale de Gato (1973)