terça-feira, 18 de outubro de 2016

Eólicas


O vento há-de levar-nos

Na minha noite, na noite, ai de mim, tão breve
o vento marca encontro com as folhas das árvores
na minha pequena noite onde há
agónica destruição
Escuta
ouves o sopro da escuridão?
Essa beatitude nada me diz
É no desespero que sou feliz

Escuta, ouves o sopro da escuridão?
Algo acontece na noite
a lua encarnada de inquietação
e por cima deste telhado
em risco iminente de desabar
nuvens
qual  carpideiras em procissão
o momento da chuva parecem aguardar
Um momento
e depois nada
A noite estremece por trás da janela
e a terra roda hesitante
Atrás desta janela
algo desconhecido nos observa

Ó tu, verde da cabeça aos pés
como uma memória a arder
 põe as tuas mãos
nas minhas mãos de amor
numa quente percepção do ser
 oferece os teus lábios
 às carícias dos meus lábios de amor
o vento há-de levar-nos
o vento há-de levar-nos


Forough Farrokhzad, Irão ( 1935-1967)
( a tradução, do inglês, é minha)

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