sexta-feira, 30 de junho de 2017

Tartarugas


À beira do mar
trinta tartarugas e eu
sob o crescente luar.

Desenho de Avgvstv.z




quinta-feira, 29 de junho de 2017

É só para ti que eu canto





... Sei que tens a alma tensa como as sedas cantantes do meu alaúde:
     É só para ti que eu toco.(...)


                                            Victor Segalen, França (1878-1919)


terça-feira, 27 de junho de 2017

Na esteira de Baudelaire


 Puisqu’il faut que les libellules
Sectionnent sans fin l’atmosphère
Que sur l’étang crèvent les bulles,
Puisque tout finit en matière.

Puisque la peau du végétal,
Comme une moisissure obscène
Doit gangrener le minéral,
Puisqu’il nous faut sortir de scène

Et nous étendre dans la terre
Comme on rejoint un mauvais rêve
Puisque la vieillesse est amère,
Puisque toute journée s’achève

Dans le dégoût, la lassitude,
De l’indifférente nature
Nous mettrons nos peaux à l’étude,
Nous chercherons le plaisir pur
Nos nuits seront des interludes
Dans le calme affreux de l’azur.


Michel Houellebecq, França (1956)




domingo, 25 de junho de 2017

Partir para conhecer (se)


 We shall not cease from exploration
 And the end of all our exploring
 Will be to arrive where we started
 And to know the place for the first time.


  T.S.Eliot ( 1888-1965)



sábado, 24 de junho de 2017

Almas dançantes


Afinal era tudo mentira,
 até aquela última cerveja, morta,
 às cinco da manhã,
 quando o corpo pede
 mais companhia do que cama,
 e, já sem quarto,
 dorme a insónia por baixo de uma porta.

São ilusões de lúpulo
 na madrugada
 e tráfico de influências pequeníssimas
 pelos rostos de modestas ambições.

Tão reduzidas ficaram as almas à mercê de zoom.


António Ferra



terça-feira, 20 de junho de 2017

Preces para que chova


 Vem, voz  que embeleza a terra!
 Vem, voz de cima, voz do trovão
 por entre as nuvens negras!
 Soa, voz que, húmida, embeleza a terra.



Dá-lhes outra vez a chuva, 
esse dom no meio do céu,
amarra bem os ventos  traz o frio contigo,
o jade e a esmeralda  fá-los descer lá do alto
- peço outra vez esse dom-,


para que corajosos possam os mortos enterrar, 
felizes com abundantes chuvas possam 
abundantes plantas cultivar. 
Felizes, como acontecia d'antes, 
possam de novo caminhar.

 Hopis, Mapuches, Navajos e eu




domingo, 18 de junho de 2017

Relâmpago


Relâmpago

O pente preto jazia 
          no parapeito
 sem um cabelo sequer
 Com a trovoada seca
 e 40 graus de calor
 ter-se-à por mester 
               desfeito
 o preto pente

 do meu amor

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Tejo


   Tejo, lombada do meu poema aberto
em páginas
 de sol
Almada Negreiros

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Noite de António s antos- ou não


 O manjerico e a bandeira
 Que há no cravo de papel –
 Hão-de encher a noite inteira,
 Ó boca de sangue e mel!

 Meu coração uma barca
 Que não sabe navegar
 Guarda o teu na sua arca
 Onde se vai aninhar.
                                                       
  
Comes sardinhas assadas,
 Bebes vinho ao quartil,
 Nem vês as moças pintadas
 Que fugiram do redil

Santo António de Lisboa
És um pregador maior,  
Mas só te ouvem os peixes
 E as moças querendo amor.

F António N Pessoa e eu

                                                                      
O vaso de manjerico
 Caiu da janela abaixo.
 Vai buscá-lo, que aqui fico
 A ver se sem ti te acho.

F António N Pessoa


domingo, 11 de junho de 2017

Quase verão


           Tremendo nas ervas
 dos campos
          a primavera despede-se


         Issa, Japão(1762-1826)

      - a tradução, do francês, fi-la eu -



Desvario na cidade
             uma gaivota
embate na minha porta




sábado, 10 de junho de 2017

Meditações- no dia de Camões




 Aconselharam-me a meter a metafisica no rabo,
 porque Nada é verdade,
 os cães morrem a mesma morte ao longo dos séculos
 e o Amor é sepultado ao lado da Fome.

                                      António Ferra


    



quinta-feira, 8 de junho de 2017

" a casa viva do olhar..."


SOBRE A CASA

Não há senão a casa viva do olhar
 à beira do crepúsculo
 não há senão
 a vereda quase triste das palavras


Eugénio de Andrade (1923- 2005)



quarta-feira, 7 de junho de 2017

Maré baixa


           Na praia quando a maré baixa
 tudo o que se apanha
            mexe

Chiyo-ni, Japão (1703- 1775)

   - a tradução, do francês, foi feita por mim-


terça-feira, 6 de junho de 2017

Pão




Os gladíolos são falsas florescências,
 os limões perderam acidez,
 as leveduras são contrafacções,

mas dai-nos, senhor, o pão de cada dia
 que o governo não publica o decreto
 a proibir a pobreza.


     António Ferra




quinta-feira, 1 de junho de 2017

"THIS MAN THIS WOMAN"


                                                ACABA AMANHÃ, 6ªFeira
                                                                  e
                 ESTÁ AQUI

Crianças



Levanta-se o vento.
Desanimado
 o papagaio

 enterra-se na areia.

Kubonta e eu