terça-feira, 29 de agosto de 2017

Nem sempre sou igual...


 XXIX
Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
 Mudo, mas não mudo muito.
 A cor das flores não é a mesma ao sol
 De que quando uma nuvem passa
 ou quando entra a noite
 E as flores são cor da sombra.

Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
 Por isso quando pareço não concordar comigo,
 Reparem bem para mim:
 Se estava virado para a direita,
 Voltei-me agora para a esquerda,
 Mas sou sempre eu, assente sobre os meus pés –
 O mesmo sempre, graças ao céu e à terra
 E aos meus olhos e ouvidos atentos
 E à minha clara simplicidade de alma...


Alberto Caeiro/ Fernando Pessoa, (1888-1935)

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