XXIX
Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
Mudo, mas não mudo
muito.
A cor das flores não
é a mesma ao sol
De que quando uma
nuvem passa
ou quando entra a
noite
E as flores são cor
da sombra.
Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
Por isso quando
pareço não concordar comigo,
Reparem bem para mim:
Se estava virado para
a direita,
Voltei-me agora para
a esquerda,
Mas sou sempre eu,
assente sobre os meus pés –
O mesmo sempre,
graças ao céu e à terra
E aos meus olhos e
ouvidos atentos
E à minha clara
simplicidade de alma...
Alberto Caeiro/ Fernando
Pessoa, (1888-1935)
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