terça-feira, 28 de setembro de 2021

«O canto do homem»

 

 É a canção dos sonhadores

 que a si próprios tinham arrancado o coração

  e o levavam na sua mão direita 

         G Apollinaire

 

O canto do homem

 

Quis para a minha aflição

 ruas estreitas, a carícia

 nos meus ombros das boas paredes duras.

 Mas vós, ó homens

 alargaste-as com os vossos passos,

 com os vossos desejos,

 com o bafio do rum,

 do sexo e da cerveja.

 Erro nos vossos labirintos

 multicolores e estou cansado

 do meu lamento.

 

 Assim

 na vossa direção vim

 com o meu grande coração nu

 e vermelho, e os meus braços pesados

 com braçados de amor

 E os vossos braços na minha

 direção se estenderam muito abertos

 e os vossos punhos duros

 bateram-me duramente na face.

 Então eu vi:

 os vossos vis esgares

 e os vossos olhos babosos

 de injúrias.

 Então ouvi

 à minha volta o coaxar, pustulento,

 dos sapos. – Logo:

 solitário, sombrio,

 agora forte e a minha sombra

 minha única companheira fiel,

 projeto o arco do meu braço

 por sobre o céu.

 

Jacques Roumain, Haiti (1907-1944)

(a tradução dos 2 poemas é minha)



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