terça-feira, 21 de setembro de 2021

«Roterdão»

 

      Como se algum destino

       ou ser na terra

me perseguisse…

 

como se algum caminho eu soubesse

ou sítio houvesse para onde ir…

 

como se a cada passo avançasse

na direcção exacta

para um tempo todo ainda por vir…

 

como se acreditasse em roteiros

de navios que partem

e à espera de alguém acreditasse em paixões…

 

não conhecesse o enorme vazio

do deserto frio onde enregelam

tantos corações…

 

    como se não me perdesse sempre

na imensidão do espaço

e meus braços não me chegassem

para me estreitar num forte abraço…

 

     como se estivesse ainda à procura de algum rumo

visse surgir do nada Aladino envolto em fumo

numa lâmpada de chama ténue a esvair-se…

 

caminhando pelo cais de Roterdão

       guiada por meus pés gelados

     que fingem saber por onde vão


   Isabel Ruth (1940)

                 



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