sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Pessoa dito


Hoje e «tomorrow»







Et ce n'est point qu'un homme ne soit triste, mais se levant avant le jour et se tenant avec prudence dans le commerce d'un vieil arbre, appuyé du menton à la dernière étoile, il voit au fond du ciel à jeun de grandes choses pures qui tournent au plaisir ...




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Mon cheval arrêté sous l'arbre qui roucoule, je siffle un sifflement plus pur... Et paix à ceux, s'ils vont mourir, qui n'ont point vu ce jour. Mais de mon frère le poète on a eu des nouvelles. Il a écrit encore une chose très douce. Et quelques-uns en eurent connaissance...



Saint-John Perse, Anabase

Amanhã

... Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém


vale mais que uma vida ou a alegria de té-la.

É isto o que mais importa - essa alegria.

Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto

não é senão essa alegria que vem

de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez alguém

está menos vivo ou sofre ou morre

para que um só de vós resista um pouco mais

à morte que é de todos e virá.

Que tudo isto sabereis serenamente,

sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,

e sobretudo sem desapego ou indiferença,

ardentemente espero. Tanto sangue,

tanta dor, tanta angústia, um dia

- mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga -

não hão-de ser em vão. Confesso que

multas vezes, pensando no horror de tantos séculos

de opressão e crueldade, hesito por momentos

e uma amargura me submerge inconsolável.

Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam,

quem ressuscita esses milhões, quem restitui

não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?

Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes

aquele instante que não viveram, aquele objecto

que não fruíram, aquele gesto

de amor, que fariam «amanhã».

E. por isso, o mesmo mundo que criemos

nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa

que não é nossa, que nos é cedida

para a guardarmos respeitosamente

em memória do sangue que nos corre nas veias,

da nossa carne que foi outra, do amor que

outros não amaram porque lho roubaram.





O que precisa nascer


tem sua raiz em chão de casa velha.


À sua necessidade o piso cede,


estalam rachaduras nas paredes,


os caixilhos da janela se desprendem.


O que precisa nascer


aparece no sonho buscando frinchas no teto,


réstias de luz e ar.


Sei muito bem do que este sonho fala


e a quem me pode dar


peço coragem.

Adélia Prado




quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Cantar a festa




"Quando dói, grito ai,


quando é bom, fico bruta.

As sensibilidades sem governo.

Mas tenho meus prantos,

claridades atrás do estômago humilde

e fortíssima voz pra cânticos de festa."

Adélia Prado





segunda-feira, 25 de novembro de 2013

reporter xc






Mezzo-potâmia



Cerimonial

Eu vou colhendo com unção os dias
conforme tu os confias
à minha mão:
leves vestes que enfio
quando me despe o coração

Remate para qualquer poema

Passeou pelos espelhos dos dias
suas clandestinas alegrias
que mal se reflectiram desertaram

Ruy Belo, Aquele Grande Rio Eufrates