quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Cidade 2




Da janela do barco




Tomou um long drink

cinzento e baço

sobre um globo de navegar

e pousou com as duas mãos

o copo de aço em cima

de um qualquer mar e



depois foi à janela do barco só olhar

para a cidade ao longe que acendia

as primeiras luzes da noite

fixou os olhos num postigo minúsculo

a visão arguta de marinheiro secular

adivinhou a costureira do príncipe feliz

e tirou um diamante cravado no

seu corpo à nascença repensou oscar

wilde recitou um poema de cor

duas três ou quatro vezes

e sentiu no rosto a bandeira agridoce

da impossibilidade de amar

e partiu por achar que assim era melhor



António Ferra, Com a cidade no corpo

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