sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Em outros lugares-mais de meio século depois...

                                                                                                                                                               
Hoje, de um vulcão, nasceu mais uma ilha. A sul de Tóquio.
Há 50 anos, morria em Dallas «de morte matada», o presidente dos E.U.A. que concedera um número avultado de «vistos» a ilhéus em fuga de uma erupção vulcânica semelhante à que hoje ocorreu no Japão. Em sinal de reconhecimento, muitos desses refugiados mantêm viva, nas paredes de suas casas, a memória de J.F.Kennedy.
Há 51 anos e alguns meses mais, Norma Jean foi encontrada morta. Já se chamava Marilyn.

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Na morte de Marilyn



Morreu a mais bela mulher do mundo

tão bela que não só era assim bela

como mais que chamar-lhe marilyn

devíamos mas era reservar apenas para ela

o seco sóbrio simples nome de mulher

em vez de marilyn dizer mulher

Não havia no fundo em todo o mundo outra mulher

mas ingeriu demasiados barbitúricos

uma noite ao deitar-se quando se sentiu sozinha

ou suspeitou que tinha errado a vida

ela de quem a vida a bem dizer não era digna

e que exibia vida mesmo quando a suprimia

Não havia no mundo uma mulher mais bela mas

essa mulher um dia dispôs do direito

ao uso e ao abuso de ser bela

e decidiu de vez não mais o ser

nem doravante ser sequer mulher

O último dos rostos que mostrou era um rosto de dor

um rosto sem regresso mais que rosto mar

e toda a confusão e convulsão que nele possa caber

e toda a violência e voz que num restrito rosto

possa o máximo mar intensamente condensar

Tomou todos os tubos que tinha e não tinha

e disse à governanta não me acorde amanhã

estou cansada e necessito de dormir

estou cansada e é preciso eu descansar

Nunca ninguém foi tão amado como ela

nunca ninguém se viu envolto em semelhante escuridão

Era mulher era a mulher mais bela

mas não há coisa alguma que fazer se certo dia

a mão da solidão é pedra em nosso peito

Perto de marilyn havia aqueles comprimidos

seriam solução sentiu na mão a mãe

estava tão sozinha que pensou que a não amavam

que todos afinal a utilizavam

que viam por trás dela a mais comum imagem dela

a cara o corpo de mulher que urge adjectivar

mesmo que seja bela o adjectivo a empregar

que em vez de ver um todo se decida dissecar

analisar partir multiplicar em partes

Toda a mulher que era se sentiu toda sozinha

julgou que a não amavam todo o tempo como que parou

quis ser atá ao fim coisa que mexe coisa viva

um segundo bastou foi só estender a mão

e então o tempo sim foi coisa que passou.

Ruy Belo

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