segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

pluviómetro

                   

Uns sentem a chuva, outros apenas se molham.
   Bob Dylan






Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego…

Tão calma é a chuva que se solta no ar
 (Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece…

Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente…

Fernando Pessoa in Cancioneiro

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

«Vem,noite, antiquíssima e idêntica...»





«...Nossa Senhora 
  das coisas impossiveis que procuramos em vão...



  Vem, soleníssima……
  Soleníssima e cheia
  De uma oculta vontade de soluçar,
  Talvez porque a alma é grande e a vida pequena,
  E todos os gestos não saem do nosso corpo
  E só alcançamos onde o nosso braço chega,
  E só vemos até onde chega o nosso olhar.’...



- Álvaro de Campos - Fernando Pessoa (excerto de uma-a primeira- ode)

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Roupa-nova


Roupa-nova

mais batatas que bacalhau
azeite e salsa q.b.
a conversa fluindo
familiar
-montes ermos?
-a escolha é sua
Boa a partilha
requinte no requentado
 iminente o solstício
 renovado.


Toada
Cantiga triste, pode com ela
é quem não perdeu a alegria.

               A.A.Prado, Bagagem