Numa carta autobiográfica, de
14 de Maio de 1887, dirigida a Wilhelm Storck, Antero afirma:
"O facto
importante da minha vida, durante aqueles anos, e provavelmente o mais decisivo
dela, foi a espécie de revolução intelectual e moral que em mim se deu ao sair,
pobre criança arrancada do viver quase patriarcal de uma província remota e
imersa no seu plácido sono histórico, para o meio da irrespeitosa agitação
intelectual de um centro, onde, mais ou menos vinham repercutir-se as
encontradas correntes do espírito moderno. Varrida num instante toda a minha
educação católica e tradicional, caí num estado de dúvida e incerteza, tanto
mais pungentes quanto, espírito naturalmente religioso, tinha nascido para crer
placidamente e obedecer sem esforço a uma regra reconhecida. Achei-me sem
direção, estado terrível de espírito, partilhado mais ou menos por quase todos
os da minha geração, a primeira em Portugal que saiu decididamente e
conscientemente da velha estrada da tradição.”
Minado pela doença, movido por sentimentos dolorosamente contraditórios, escreve
Minado pela doença, movido por sentimentos dolorosamente contraditórios, escreve
O PALÁCIO DA
VENTURA
Sonho que sou um cavaleiro andante,
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura!
Mas já desmaio, exausto e vacilante
Quebrada a espada já, rota a armadura...
E eis que súbito o avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea formosura!
Com grandes golpes bato à porta e brado:
Eu sou o Vagabundo, o Deserdado...
Abri-vos, portas d'ouro, ante meus ais!
Abrem-se as portas d'ouro com fragor...
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão - e nada mais!
Sonho que sou um cavaleiro andante,
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura!
Mas já desmaio, exausto e vacilante
Quebrada a espada já, rota a armadura...
E eis que súbito o avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea formosura!
Com grandes golpes bato à porta e brado:
Eu sou o Vagabundo, o Deserdado...
Abri-vos, portas d'ouro, ante meus ais!
Abrem-se as portas d'ouro com fragor...
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão - e nada mais!
Nós entendemos-porque os sentimos-porém, andantes, buscamos ainda caminhos novos:
«...porque parar, nunca!Antes o poço da morte que tal sorte!»
«...porque parar, nunca!Antes o poço da morte que tal sorte!»
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