Azorean Torpor
Onde
a vaga retumba eram as obras do porto:
Roldanas,
guinchos, cais, pedras esverdeadas
E,
na areia da draga, ao sol, um peixe morto
Que
vê passar na praia as damas enjoadas.
A
cidade? Esqueci… Um poeta é sempre absorto;
De
mais a mais - talvez paragens abandonadas.
O
que é certo é que entrei um dia naquele porto
Em
que as próprias marés parecem arrestadas.
Porque
a mais leve luz que se embeba na Barra
Embacia
os perfis dos cais e dos navios
Em
frente à linha do horizonte que se perde…
E
um desconsolo, um não-partir paira nos pios
Das
gaivotas sem céu que o vento empluma e agarra
Estilhaçando
o arisco mar de vidro verde.
Vitorino
Nemésio, O bicho harmonioso
Coimbra, Revista de Portugal, 1938 (1ª ed.)
Coimbra, Revista de Portugal, 1938 (1ª ed.)
Azorean Torpor é um termo que foi inaugurado pelos irmãos Joseph e Henry Bullar, no livro A winter in the Azores, and a summer at the baths of the Furnas e refere-se ao entorpecimento e apatia que se instalava nos visitantes, por causa do clima, do isolamento, da vastidão. O termo foi reutilizado por Vitorino Nemésio, por Alice Moderno e outros.
Quem inventa
ilhas apenas cria
sabidos paraísos e infernos ainda iguais
às vidas já vividas na agonia
de ser o menos e almejar o mais.
Quem em ilha
nasce logo cedo reconhece
onde o menos se distende e como o mais fenece.
Terras. Porto, Campo das Letras-
Editores,S.A.
Esta cantiga da terra abre, no entanto, perspectivas novas sobre o assunto. Obrigada,José.
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