sábado, 31 de maio de 2014

Leitura de erros



Cobre o erro com tinta branca, por favor!





 As palavras nascem em função de algo ou de um recetor- ainda que virtual. Quando danço, também me movem outros seres que se exprimem.
Tudo o que faço com mais gosto é
invariavelmente
por ou para alguém.








terça-feira, 27 de maio de 2014

« Cabeça, Coração»




  Heart weeps.
  Head tries to help heart.
  Head tells heart how it is, again:
  You will lose the ones you love. They will all go. But
 even the earth will go, someday.
  Heart feels better, then.
  But the words of head do not remain long in the ears of

heart
  Heart is so new to this.
  I want them back, says heart.
  Head is all heart has.
  Help, head. Help heart.

  Lydia Davis

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Porque e 24- poesia realidade real



Porque

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.


Sophia de Mello B.Andresen, Obra poética


24

 Meu coração é como um peixe cego,
Só o calor das águas o orienta,
E por isso me arrasta aonde me nego;
De puros impossíveis me sustenta.

O que eu tenho sentido é mais que mar;
Em força e azul, cinco oceanos soma:
Mas ainda há a tristeza a carregar
E as coisas que só pesam pelo aroma.

Há o país da espera e dos sinais,
Se feitos, apagados na neblina,
E a terra de tudo e muito mais,
Onde a minha alma é quase uma menina

Sentada no jardim de nunca, a triste!
Se vale a pena em flor, essa ainda rego.
Tudo o mais – nem me agrava, nem existe:
Árida distracção, lânguido apego.



Vitorino Nemésio , Poesia (1916-1940) Vol.1


sexta-feira, 23 de maio de 2014

Anjos: «Open Mind Ensemble».


Revisão do texto

Janela com vista para a cidade

Open Mind Ensemble- Clube Recreativo dos Anjos 


quinta-feira, 22 de maio de 2014

Estórias 3




SEM OUTRO INTUITO

Atirávamos pedras
à água para o silêncio vir à tona.
O mundo, que os sentidos tonificam,
surgia-nos então todo enterrado
na nossa própria carne, envolto
por vezes em ferozes transparências
que as pedras acirravam
sem outro intuito além do de extraírem
às águas o silêncio que as unia


Luís Miguel Nava ( 29/09/1957 - 10/05/1995)

terça-feira, 20 de maio de 2014

Estórias 1



- Era uma vez...

  - Não há duas
      sem três!

- Conta-me histórias!

 - Canta-me uma canção.


- Dá-me um abraço...
-...e um xi-coração?

- Quero agora a tua mão!






sexta-feira, 16 de maio de 2014

Rosas



Um dia alguém escreveu: «Prefiro rosas, meu amor, à pátria».
Cito de cor; cito o que agora sinto. 

segunda-feira, 12 de maio de 2014

«As mãos de João»




As mãos de João (excerto final)
(....)
Mãos de pedra
Pedra pura
Pedra tosca
Mãos sujas
Mãos de rocha
Mãos de ferro
Mãos secas , ressequidas
Mãos tristes, caídas
Mãos ensanguentadas, culpadas
Nervosas, partidas quebradas
São estas as tuas mãos

João, meu irmão? (...)

David Hoppfer C. Almada

domingo, 11 de maio de 2014

«Mirabilis...» - sem título



À noite
Cada homem
Procura um mar
Para navegar
Mas não encontra
O seu barco

O ancoradouro
Foi-se embora.


     José Luís Tavares, in Mirabilis