“É a guerra aquele
monstro que se sustenta das fazendas, do sangue, das vidas, e quanto mais come e
consome, tanto menos se farta. É a guerra aquela tempestade terrestre, que leva
os campos, as casas, as vilas, os castelos, as cidades, e talvez em um momento
sorve os reinos e monarquias inteiras. É a guerra aquela calamidade composta de
todas as calamidades, em que não há mal algum que, ou se não padeça, ou se não
tema, nem bem que seja próprio e seguro. O pai não tem seguro o filho, o rico
não tem segura a fazenda, o pobre não tem seguro o seu suor, o nobre não tem
segura a honra, o eclesiástico não tem segura a imunidade, o religioso não tem
segura a sua cela; e até Deus nos templos e nos sacrários não está
seguro”.
(“Sermão
Histórico e Panegírico nos Anos da Rainha D. Maria Francisca de Sabóia”,
II)
"É a guerra aquele monstro que se sustenta das
fazendas, do sangue, das vidas, e quanto mais come
e consome tanto menos se farta."
quarta-feira, 16 de julho de 2014
Rondando a noite, na companhia do homem dos balões.
Tal como as nuvens Que impele o vento, E ora assombram, e ora alegram Os espaços imensos do céu, Assim as ideias Loucas que eu tenho, As imagens de múltiplas formas, De estranhas feituras, de cores incertas, Ora assombram, Ora aclaram O fundo sem fundo do meu pensamento. Rosalia de Castro(1837-1885)
Fotografia de Benoliel
Em «português transatlântico»-enviado por amigos atentos.
Prête-moi
ton grand bruit, ta grande allure si douce,
Ton glissement nocturne à travers l'Europe illuminée,
Ô train de luxe ! et l'angoissante musique
Qui bruit le long de tes couloirs de cuir doré,
Tandis que derrière les portes laquées, aux loquets de cuivre lourd,
Dorment les millionnaires. Je parcours en chantonnant tes couloirs
Et je suis ta course vers Vienne et Budapesth,
Mêlant ma voix à tes cent mille voix,
Ô Harmonika-Zug !
J'ai senti pour la première fois toute la douceur de vivre,
Dans une cabine du Nord-Express, entre Wirballen et Pskow .
On glissait à travers des prairies où des bergers,
Au pied de groupes de grands arbres pareils à des collines,
Etaient vêtus de peaux de moutons crues et sales…
(Huit heures du matin en automne, et la belle cantatrice
Aux yeux violets chantait dans la cabine à côté.)
Et vous, grandes places à travers lesquelles j'ai vu passer la Sibérie et les
monts du Samnium ,
La Castille âpre et sans fleurs, et la mer de Marmara sous une pluie tiède !
Prêtez-moi, ô Orient-Express, Sud-Brenner-Bahn , prêtez-moi
Vos miraculeux bruits sourds et
Vos vibrantes voix de chanterelle ;
Prêtez-moi la respiration légère et facile
Des locomotives hautes et minces, aux mouvements
Si aisés, les locomotives des rapides,
Précédant sans effort quatre wagons jaunes à lettres d'or
Dans les solitudes montagnardes de la Serbie,
Et, plus loin, à travers la Bulgarie pleine de roses…
Ah ! il faut que ces bruits et que ce mouvement
Entrent dans mes poèmes et disent
Pour moi ma vie indicible, ma vie
D’enfant qui ne veut rien savoir, sinon
Espérer éternellement des choses vagues.
Le
Masque
J’écris toujours avec un masque sur le visage ;
Oui, un masque à l’ancienne mode de Venise,
Long, au front déprimé,
Pareil à un grand mufle de satin blanc.
Assis à ma table et relevant la tête,
Je me contemple dans le miroir, en face
Et tourné de trois quarts, je m’y vois
Ce profil enfantin et bestial que j’aime.
Oh, qu’un lecteur, mon frère, à qui je parle
A travers ce masque pâle et brillant,
Y vienne déposer un baiser lourd et lent
Sur ce front déprimé et cette joue si pâle,
Afin d’appuyer plus fortement sur ma figure
Cette autre figure creuse et parfumée.
Valery Larbaud, Les poésies de A.O. Barnabooth, Éd. Gallimard, 1948
Sonhando e trabalhando por uma« internacional literária» da qual foi um mediador entusiasta, injustamente relegado para segundo plano, Valery Larbaud nasceu em 1881 e morreu em 1957. Em 1908, publicou, pela primeira vez, estes e outros poemas que atribuiu a A. O. Barnabooth- «un riche amateur».
Esteve em Lisboa e no Buçaco; encontrou-se com escritores e outros nomes das artes portuguesas, aquando da sua estadia na capital, tendo contactado, entre outros, com Almada Negreiros.
Pessoa nunca é mencionado em todo o material que consultei... transcrevi, no entanto, estes 2 poemas por me parecerem muito próximos daqueles que o nosso poeta- nas suas variações maiores-concebeu. Talvez as semelhanças sejam apenas fruto de« l'air du temps», mais on ne sait jamais...