Sob
a luz feroz do teu rosto
Amar um leão usa-se pouco
porque
não pode afagá-lo
o nosso desejo de afagá-lo,
o nosso desejo de afagá-lo,
como
tantas vezes cão ou gato
aceitam-nos a mão a deslizar
sobre seu pêlo;
aceitam-nos a mão a deslizar
sobre seu pêlo;
amar
um leão não se devia,
agora que já não somos divinos,
quando a flauta que tudo
agora que já não somos divinos,
quando a flauta que tudo
encantaria,
gentes animais
pedras, nós a quebramos contra
a ventania; amar
pedras, nós a quebramos contra
a ventania; amar
um
leão é só distância: tê-lo ao lado,
não poder beijá-lo, o deserto
que habita em torno dele;
não poder beijá-lo, o deserto
que habita em torno dele;
era
mais certo amar um barco,
era mais fácil amar um cavalo;
amar um leão é não poder amá-lo;
era mais fácil amar um cavalo;
amar um leão é não poder amá-lo;
e
nada que façamos adoça
o que nele nos ameaça se
amar um leão nos acontece:
o que nele nos ameaça se
amar um leão nos acontece:
à
visão de nosso coração
ofertado, tudo nele se eriça,
seu desprezo cresce;
ofertado, tudo nele se eriça,
seu desprezo cresce;
amar
um leão, se nos matasse;
se nos matasse o leão que amamos
seria a dor maior, mais que esperada:
se nos matasse o leão que amamos
seria a dor maior, mais que esperada:
presas
patas fúria cravadas em nossa carne;
mas o leão, que amamos,
não nos mata.
mas o leão, que amamos,
não nos mata.
Eucanaã
Ferraz, Brasil, 1961
Sem comentários:
Enviar um comentário