sábado, 31 de outubro de 2015

Uma pausa




(...) Vou-me vendo melhor. Não procuro o repouso
 Procuro inquietamente uma pausa. Não é igual.
 Vivo da confusão porque nada é tão simples
 Nem tão humano como deixar-me ir no arraste
 Entre lodos, recifes e algas arbóreas.

  Se procurasse o repouso repousaria, pousaria
 Todo o peso da cabeça num penedo de musgo
 Apascentando um rebanho de cães, atentos por mim
 Controlando um débito parco de ideias sucessivas
 Pautadas por um apenas perceptível ritmo solar
 Por um vale plano entre duas ribeiras.

 Mas sou marinho e montês. Golfinho e cabra.
 Todo o meu ritmo é de água até à água.
 Corro entre pedras, precipito-me, remanso
 Serpenteio gargalho separo-me resumo-me
 Participo na onda na nuvem na chuva
 E, como sempre, cíclico! Visto que
 Toda a confusão tende ao ciclo.

Só o repouso é linear, ausente de cristas
 Daí que a morte seja justamente aquele eterno repouso
 E nascer, vir do nada, explique muito bem
 Esta saudade inexplicável do repousar
 Transportada no dorso póstumo de cada acção.(...)

João Pedro Grabato Dias, in facto/fado , ed do autor, Porto,1986

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Neste dia de « mudança »: Grabato dias versus luiz vaz



actualização do soneto VII de luiz vaz

Mudam-se os templos, mudam-se as vontades
muda-se o crer, muda-se a mudança
e o pó facundo, imposto à confiança
geral, esporrinha (mal) liberalidades.

Continuamente TêVêmos suaves
dirigentes na rota da esperança;
do aval esticam anáguas de faiança
que tem, o algum bem, das raridades
.
Jumento-cobra cobre o cão, e o espanto
desta anti bio lógica heresia
em mim adverte o coro em que não canto
.
E afora este mudar de bateria
nenhuma outra mudança dá o arranco
final à encalhada ferraria.

J P Grabato  Dias, (1933-1994)


quarta-feira, 28 de outubro de 2015

«Dans la suite des jours»-7ème volume


10
pose le
jour
pose la
nuit
ce sont
draps
de ton
lit
berceau
cercueil
autre
vient
pose
tout
dans
l’ombre
soleil ou
lune
pose
ne refais
pas
l’ourlet
rouvre
la
cicatrice
l’éloge
du
temps

Michaël Glück , França (1946)




terça-feira, 27 de outubro de 2015

Males e Infernos

Instalação de João Francisco Vilhena


É um vão de verdura onde um riacho canta
A espalhar pelas ervas farrapos de prata
Como se delirasse, e o sol da montanha
Num espumar de raios seu clarão desata.

Jovem soldado, boca aberta, a testa nua,
Banhando a nuca em frescas águas azuis,
Dorme estendido e ali sobre a relva flutua,
Frágil, no leito verde onde chove luz.

Com os pés entre os lírios, sorri mansamente
Como sorri no sono um menino doente.
Embala-o, natureza, aquece-o, ele tem frio.

E já não sente o odor das flores, o macio
Da relva. Adormecido, a mão sobre o peito,
Tem dois furos vermelhos do lado direito
.

Arthur Rimbaud , França (1854-1891)
    ( tradução de Ferreira Gullar )


« A diferença entre a Guerra e a Paz é a seguinte: na Guerra, os pobres são os primeiros a serem mortos; na Paz, os pobres são os primeiros a morrer.
 Para nós, mulheres, há ainda uma outra diferença: na Guerra, passamos a ser violadas por quem não conhecemos.» 
 Mia Couto, Mulheres de Cinza, Editorial Caminho, Lisboa, 2015

escultura de Miguel Angel Recoba 

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Uma espécie de fábula





«… Quem se verga à servidão fá-lo porque, como o elefante de Kipling, esqueceu a sua própria força. Quando se lembrar dela e se dispuser a assestar uma bela trombada no primeiro que se atreva a picá-lo, talvez haja paz no jardim zoológico».


Claudio Magris, Danúbio, Publicações D. Quixote, Lisboa, 1992 (p  211)

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Quem somos? Amanhã seremos outros


Quem somos, senão o que imperfeitamente 
sabemos de um passado de vultos 
mal recortados na neblina opaca, 
imprecisos rostos mentidos nas páginas 
antigas de tomos cujas palavras 

não são, de certo, as proferidas, 
ou reproduzem sequer actos e gestos 
cometidos. Ergue-se a lâmina: 
metal e terra conhecem o sangue 
em fronteiras e destinos pouco 

a pouco corrigidos na memória 
indecifrável das areias. 
A lápide, que nomeia, não descreve 
e a história que o historia, 
eco vário e distorcido, é já 

diversa e a si própria se entretece 
na mortalha de conjecturados perfis. 
Amanhã seremos outros. Por ora 
nada somos senão o imperfeito 
limbo da legenda que seremos.

Rui Knopfli, Moçambique (1932-1997)

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

o grito do(s) que morre(m)


 Correcciones

Como un cabalista
desnudo el símbolo del habla,
me trepo al verbo, gastando las acciones,
me vuelvo sustantivo,
                     mudo,
                    enajenado,
                    un corcho en tus pupilas;
y amando tu silencio,
      el yunque de la lengua,
me pego al grito del que muere;
y haciéndome adjetivo
me compadezco tanto
que el filo del paréntesis

me anula el alma.


Carlos J. Aldazábal, Argentina, 1974

sábado, 10 de outubro de 2015

Ancara- Turquia


The Enemy

whichever stone you overturn
in this historic countryside
the enemy appears below

                enemy enemy enemy

ancient enemy, prime enemy
a treacherous black enemy
enemy enemy

ah why and where and when
did you create this evil deity
o mankind

Yasar Míraç, Turquia, 1953

(trad de Pelin Alioglu e Jean Carpenter Efe)

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Carneiro


Mouton

Les images passent et repassent
Dans sa tête, de mouton
Normal
Images de couloirs sinueux d’une enfance sacrée
Bordel
Les cheminées tombent une par une
Les poutres en acier se déforment
Tout est insufflé dans une spirale descendante sans fin
Il a lu tout ce qu’il fallait lire
Il a étudié les meilleurs
Il a dansé, chanté
Pleuré
L’heure de se réveiller arrive
Le soleil se lève, tout comme son indifférence
Et, comme d’habitude, il part brouter dans son champ
Avec les autres moutons parfaits

Jules Delavigne, Inglaterra, 1962    



quinta-feira, 8 de outubro de 2015

O canto



El canto

La tierra está licuando las raíces
que en el silencio formaron un cantar.
La tierra nos destroza.
Hay canarios sagaces
que aún persisten en trinos,
canarios congelados en el fuego,
canarios rencorosos.
Ellos beben el aire
y excretan el polvo con su canto,
el canto que se pierde en la saliva,
en la rabiosa imagen del futuro.
El silencio es el profeta del olvido,
por eso los canarios se meten en sus fauces
y hablan en su lengua.

La esperanza: un canario

devorando al silencio.

Carlos J Aldazabal, Argentina, 1974

terça-feira, 6 de outubro de 2015

A vida continua, com suas contínuas questões

Naissance


Les opinions prêtes à servir
qu’on te ficelle en un bouquet
et que tu n’oserais flétrir
en tes propos ni en pensées,
toujours opinant du bonnet,
idolâtrant comme on respire
et peut-être inconscient du fait
ou refusant d’en convenir…
yeux dans les yeux regarde-les,
ces opinions prêtes à servir,
ces intouchables points de mire !
Et ne te laisse assujettir !
Et qu’importe ton désarroi !
Questionne-les ! Questionne-les
avec tes doutes et tes désirs,
avec tes craintes et tes émois
et tout ce qui sommeille en toi !
Et à toi-même tu naîtras !
Esther Granek, Bélgica, 1927  

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Ler os votos de outra forma





VOTANTES
56,93%









226 Mandato(s) atribuído(s)
Mandatos atribuídos: 226
4 Mandato(s) por atribuir
Mandatos por atribuir: 4
5.374.343 VOTANTES
9.439.711 INSCRITOS


Resultados de 2015
PPD/PSD.CDS-PP
Portugal à Frente

36,83%
1.979.132 votos

Mandatos

PS
Partido Socialista

32,38%
1.740.280 votos

Mandatos

B.E.
Bloco de Esquerda

10,22%
549.153 votos

Mandatos

PCP-PEV
CDU - Coligação Democrática Unitária

8,27%
444.319 votos

Mandatos

PPD/PSD
Partido Social Democrata

1,51%
81.054 votos

Mandatos

5
PAN
Pessoas-Animais-Natureza

1,39%
74.656 votos

Mandatos

1
PDR
Partido Democrático Republicano

1,13%
60.912 votos
PCTP/MRPP
Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses

1,11%
59.812 votos
L/TDA
LIVRE/Tempo de Avançar

0,72%
38.958 votos
PNR
Partido Nacional Renovador

0,50%
27.104 votos
MPT
Partido da Terra

0,42%
22.384 votos
PTP-MAS
Agir

0,38%
20.690 votos
NC
Nós, Cidadãos!

0,35%
18.695 votos
PPM
Partido Popular Monárquico

0,28%
14.799 votos
JPP
Juntos pelo Povo

0,26%
14.196 votos
PURP
Partido Unido dos Reformados e Pensionistas

0,26%
13.739 votos
CDS-PP
CDS - Partido Popular

0,14%
7.536 votos
CDS-PP.PPM
Aliança Açores

0,07%
3.654 votos
PPV/CDC
Partido Cidadania e Democracia Cristã

0,05%
2.658 votos
PTP
Partido Trabalhista Português

0,03%
1.748 votos
EM BRANCO

2,09%
112.293 votos
NULOS

1,61%
86.571 votos.
Subtrair os votantes dos inscritos: obtereis os abstencionistas e alguns votantes-fantasma ainda;
Somar os brancos e os nulos- deram-se «ao trabalho» de ir até à urna;
Entre os votantes, somar os da coligação PAF aos do PPD/PSD, CDS-PP, aos anteriores + PPM: eis  os contentes;
                                ( esquecer ou não o PNR )
Somar brancos e nulos com os dos restantes partidos/coligações: obtereis os descontentes activos.