(...) Vou-me vendo melhor. Não procuro o repouso
Procuro inquietamente
uma pausa. Não é igual.
Vivo da confusão
porque nada é tão simples
Nem tão humano como
deixar-me ir no arraste
Entre lodos, recifes
e algas arbóreas.
Se procurasse o repouso repousaria, pousaria
Todo o peso da cabeça num penedo de musgo
Apascentando um
rebanho de cães, atentos por mim
Controlando um débito
parco de ideias sucessivas
Pautadas por um
apenas perceptível ritmo solar
Por um vale plano
entre duas ribeiras.
Mas sou marinho e montês. Golfinho e cabra.
Todo o meu ritmo é de
água até à água.
Corro entre pedras,
precipito-me, remanso
Serpenteio gargalho
separo-me resumo-me
Participo na onda na
nuvem na chuva
E, como sempre,
cíclico! Visto que
Toda a confusão tende
ao ciclo.
Só o repouso é linear, ausente de cristas
Daí que a morte seja
justamente aquele eterno repouso
E nascer, vir do
nada, explique muito bem
Esta saudade
inexplicável do repousar
Transportada no dorso
póstumo de cada acção.(...)
João Pedro Grabato Dias, in facto/fado , ed do autor, Porto,1986
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