domingo, 11 de outubro de 2020

Ítaca - vista pela Nobel

Ítaca 

 

O ser amado não

precisa viver. O ser amado

vive na cabeça. O tear 

é para os pretendentes, suspenso 

como uma harpa de brancos filamentos. 

Ele era duas pessoas. 

Era corpo e voz, o fácil 

magnetismo de um homem vivo, e então 

o sonho revelado ou a imagem 

formada pela mulher manejando o tear, 

ali sentada num salão cheio 

de homens de mentes literais. 

Se te causa pena 

o mar enganado que tentou 

levá-lo para sempre 

e devolveu apenas o primeiro, 

o verdadeiro marido, deverias 

sentir pena desses homens: eles não sabem 

para o que estão olhando; 

eles não sabem que quando alguém ama dessa maneira 

o manto se torna um vestido de casamento.

 

Louise Gluck

(tradução de Pedro Gonzaga) 



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