Oração fúnebre por
uma mulher sem importância
Deixou-nos sem que lhe empalidecesse uma bochecha
ou lhe estremecesse
um lábio
As portas não ouviram ninguém trazer a narrativa
da sua morte
Nenhuma cortina de janela ressudou de desgosto
se levantou para seguir com os olhos o seu caixão até
que ele desaparecesse
Lá fora raras as pessoas que se comoveram ao lembrá-la
A notícia perdeu-se nas ruelas sem que
se espalhasse o seu eco
E refugiou-se no esquecimento de algumas covas
A lua deplorou esta infelicidade.
A noite não lhe prestou nenhuma atenção e entregou-se ao dia
Então veio a luz com os clamores da leiteira,
o jejum,
O miado de um gato esfomeado que só tinha pele
e osso,
As querelas dos vendedores, a amargura, a luta,
As crianças atirando pedras umas às outras de um extremo ao
outro
da rua,
As águas sujas nas valas e os ventos brincando
sozinhos às portas
dos terraços
Num esquecimento quase total.
Nazik Al-Malaika ( iraquiana, 1923-2007) - traduzi eu, do francês.
in Anthologie de poésie arabe contemporaine, Actes Sud, 2007
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