Talvez um homem na África do Sul tivesse notícia de um homem
na China ou de um homem mumificado na Europa do Norte, até que um deus
aparecesse exibindo uma estranhíssima bondade espalhada na árvore coberta de
todas as folhas. Mesmo que aquela intensidade da palavra voltasse a preencher
enigmas no tecto de uma caverna iluminada pelo ensaio do fogo.
...«Deixai-me ser um homem livre - livre de viajar, livre de
parar, livre de trabalhar, livre de negociar onde escolher, livre de escolher
os meus próprios mestres, livre de seguir a religião de meus pais, livre de pensar,
de falar e de agir por mim próprio - e hei-de então obedecer a todas as leis, ou
submeter-me ao castigo delas». 14/1/1879
excerto final do discurso do Chefe Joseph (tribo dos Nez Percé ), aos membros do Ministério e do Congresso dos EUA, para que os
deixassem sair da reserva onde os
desterraram e voltar ao território que lhes pertencia, em Wallowa Valley
(Oregão).
Dans une nuit à queue leu leu Dès que ça flaire une ripaille De morts sur un champ de bataille Dès que la peur hante les rues Les fous s'en viennent la nuit venue... alors Les fous, ououh! ououououh! Les fous sont rentrés dans Paris (...) Serge Reggiani
verão de São Martinho/ été indien castanhas e vinho cowboys e índios
cor nas folhas caducas: o outono no seu mais belo estertor.
40 anos da independência de Angola; a morte sempre ceifando;
o 1º dia de um governo-surpresa que «promete»...
e uma reacção corajosa a propostas e respostas light na literatura
Na década de 70 do século passado, VN escreveu este poema semanticamente electrónico: nele a palavra ordenador figura em vez de computador, por ser polissemicamente mais rica.
SEMÂNTICA ELECTRÓNICA
Ordeno ao ordenador que me ordene o ordenado
Ordeno ao ordenhador que me ordenhe o ordenhado
Ordinalmente
Ordenadamente
Ordeiramente.
Mas o desordeiro
Quebrou o ordenador
E eu já não dou ordens
Coordenadas
Seja a quem for.
Então resolvo tomar ordens
Menores, maiores.
E sou ordenado,
Enfim ‑ o ordenado
Que tentei ordenhar ao ordenador quebrado.
‑ Mas ‑ diz-me a ordenança ‑
Você não pode ordenhar uma máquina:
Uma máquina é que pode ordenhar uma vaca.
De mais a mais, você agora é padre,
E fica mal a um padre ordenhar, mesmo uma ovelha.
Velhaca, mesmo uma ovelha velha,
Quanto mais uma vaca!
Pois uma máquina é vicária (você é vigário?):
Vaca (em vacância) à vaca.
São ordens...
Eu então, ordinalmente ordeiro, ordenado, ordenhado,
Às ordens da ordenança em ordem unida e dispersa
(Para acabar a conversa
Como aprendi na Infantaria),
Ordenhado chorei meu triste fado.
Mas tristeza ordenhada é nata de alegria:
E chorei leite condensado,
Leite em pó, leite céptico asséptico,
Oh, milagre ordinal de um mundo cibernético!
Vitorino Nemésio ( 1901-1978)
Quando o li, apreciei-lhe antes de tudo o ritmo; depois, o jogo não apenas com os diferentes sentidos de um neologismo cuja raiz é a palavra ordem, mas também com uma sua parónima- ordenhar; posto isto efinalmente, a ironia refinada que dele se desprende suplantando a nomeada tristeza.
Hoje penso que ainda não foram exploradas pelos humanos, em seu favor, todas as potencialidades desse mundo cibernético. Mas isso é um outro assunto...
O GOD, O Venus, O Mercury, patron of thieves, Give me in due time, I beseech you, a little tobacco-shop, With the little bright boxes piled up neatly upon the shelves And the loose fragrant cavendish and the shag, And the bright Virginia loose under the bright glass cases, And a pair of scales not too greasy, And the volailles dropping in for a word or two in passing, For a flip word, and to tidy their hair a bit.
O God, O Venus, O Mercury, patron of thieves, Lend me a little tobacco-shop, or install me in any profession Save this damn’d profession of writing, where one needs one’s brains all the time.
Ezra Pound, EUA, (1885-1972), Poetry A magazine of verse, setembro 1916