Um marciano manda um
postal para casa
Caxtons são pássaros mecânicos de muitas asas
E alguns são muito
apreciados pela coloração –
fazem os olhos derreter-se
ou o corpo gemer de
dor.
Nunca vi nenhum voar, mas
às vezes pousam na
mão.
Névoa é quando o céu
está cansado de voar
e descansa no chão a
máquina macia:
então fica o mundo
baço e livresco,
como gravuras sob
papel de seda.
A chuva é quando a terra é televisão.
Tem a propriedade de
tornar as cores mais escuras.
O Modelo T é um quarto com a fechadura dentro-
dá-se a volta à chave
e o mundo fica livre
para o movimento, tão
veloz que há um filme
para ver tudo o que passou despercebido.
Mas o tempo está atado ao pulso
ou guardado numa
caixa, fazendo um tiquetaque de impaciência.
Em lares, dorme um utensílio assombrado
que ressona quando
alguém lhe pega.
Se o fantasma chora, levam-no
aos lábios e
sossegam-no com sons
até dormir de novo. E
no entanto acordam-no
de propósito,
fazendo-lhe cócegas com um dedo.
Só às crianças se permite que sofram
em público. Os adultos vão para um quarto de castigo
com água, mas sem
nada de comer.
Fecham a porta à
chave e sofrem sozinhos
os barulhos. Ninguém
está dispensado,
e a dor de cada um
tem um cheiro diferente.
À noite, quando as cores todas morrem,
escondem-se aos pares
e lêem acerca de si próprios
A cores, de pálpebras
cerradas.
Craig Raine, Inglaterra, 1944
(tradução de João Ferreira Duarte)
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