sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Dedicado a Hipátia


       ECLÍPTICA SANGUÍNEA (O Lugar Morto)
                                    Dedicado a Hipátia

 Dizias Sangue e Vida quando todo o ouro cabia na tua boca
 E era tão doce, o entardecer - tão pacifica, a Solidão
 Regressar a casa para junto da própria sombra
 E ter a força para segurar a própria mão.

 Eu era jovem, sonhava
 Beijar a Histeria na boca
 - loucura sanguínea, era tua –
 Era na tua boca azul que os sonhos se despedaçavam, nasciam de novo
 E enormes, altíssimos, eram os pesadelos de deus
 E os sorrisos tristes dos amigos que chegavam
 Trazendo tanto frio nos cabelos, memórias entre os dedos
 Como serpentes mortas encontradas na estrada.

 Então surgiam os cânticos e as garrafas quebradas
 Memórias pela eternidade acariciadas
 E quando o sangue ardia no fundo dos corpos
 E a noite adormecia sob as tuas pálpebras pesadas
 Sonhávamos ou provávamos a existência
 De árvores ardendo em constelações geladas
 Ou de como todo o ouro cabia na tua boca amada.

 Despimos a verdade, ela estremece nua:

 Era às portas da morte que o amor nos esperava.


 E ela

 Ela era uma mulher que dormia
 Com a sua nudez encostada às palavras sagradas:

 Era preciso cair até ao fundo
 Soterrado nos seus braços
 Era necessário perder para não mais recuar
 Para morrer com delicadeza
 Para quase viver sem respirar
 E as trevas, como setas, apontadas para sempre
 Aos planetas e aos segredos e à sua boca dourada

 E talvez dissesses
 Enquanto a Morte espreitava por entre os teus cabelos:
- Caímos das estrelas e
  Caímos das estrelas e
  Caímos das estrelas
  Não chores:

  É através da noite que regressamos a elas.

      Bruno D Lírio (sem dados precisos)


Sem comentários: